quinta-feira, 18 de outubro de 2007

CRÍTICA: LIGEIRAMENTE GRÁVIDOS / Bebê no ventre dos outros é refresco

Acho que o melhor argumento pra defender “Ligeiramente Grávidos” é lembrar daquela comédia horrenda com o Hugh Grant, “Nove Meses”, pra entender como tudo podia ter dado errado. Podia ser um filme cretino sobre um casal que engravida acidentalmente e ainda tem que enfrentar um Robin Williams com sotaque esquisito como obstetra. No entanto, “Grávidos” consegue ser uma comédia meiga, pra cima, com um bom clima, um típico “feel good movie”. Não sei se esses adjetivos justificam que os críticos americanos elevem a comédia às nuvens, dando média 85 pra ela, e transformando-a numa das películas mais elogiadas do ano. Menos, gente, menos. Não é pra tanto. “Superbad”, por exemplo, que estréia no Brasil em meados de outubro, é muito mais divertido. Inclusive, os dois filmes foram produzidos e escritos pelo mesmo time, liderado pelo Judd Apatow (do irregular “O Virgem de 40 Anos”), e há alguns atores, como o protagonista Seth Rogen e o gordinho Jonah Hill, que participam de ambos.

Claro que “Grávidos” é uma fantasia masculina de como um jovem (o Seth realmente aparenta mais ter 33 que 23 anos, mas acredite, o rapaz nasceu em 82, então faça as contas) que não trabalha e mora numa espécie de república pode amadurecer na marra e conquistar uma moça ambiciosa (a Katherine Heigl de “Grey’s Anatomy”, que parece uma Ashley Judd mais bonita). É totalmente ficção por vários motivos. Primeiro que mal se fala de aborto. O casal que não é casal decide rapidamente que vai ter o bebê e que vai ficar junto. Depois que uma moça linda dessas dificilmente sairia com o nerd com “seios masculinos”. Tá, vamos supor que, por ela estar bêbada, transa com o carinha, e engravida. Mas daí a procurá-lo pra que ele se assuma como pai vai uma distância e tanto. Não por ele ser meio desajeitado (nós mulheres não ligamos muito pra aparência física – dá pra confundir o Seth com um ursinho de pelúcia), mas por ele ser um crianção. A Katherine até pode se adaptar à idéia de criar um filho, mas dois?! (Hmm... Quando eu conheci o maridão, ele recebia de salário meia cesta básica por mês. Não era uma completa porque ele precisava dividi-la com um outro jogador de xadrez. Felizmente não ficamos ligeiramente grávidos).

Esse é um jeito feminista de ver as coisas. Outro é achar que, no fundo, todos os personagens são boa gente, e pessoas legais podem superar tudo. O carinha mais bacana de todos é o cunhado da Katherine, feito pelo Paul Rudd, que rouba todas as cenas e, graças ao seu timing cômico, ganha do público as risadas mais entusiasmadas (o olhar que o Paul dirige ao ver que sua mulher flertou com um nerd é a maneira ideal. E ele é lindo. Isso eu já sabia desde “As Patricinhas de Beverly Hills”). Por um lado, a personagem da Katherine não tá bem construída. Ela não tem amigos ou interesses românticos, e mora com a irmã. Por outro lado, “Grávidos” dedica alguma solidariedade ao sexo feminino. A irmã dominadora (feita pela Leslie Mann, esposa do diretor na vida real. E as filhinhas gracinhas são do casal também) tem sentimentos. Seu diálogo com o segurança de uma boate deve fazer várias mulheres se identificarem. Ou seja, “Grávidos” vai além dos temas de rapazes que não querem crescer e de como mulheres responsáveis são chatas.

É verdade que tem umas três cenas que eu tiraria fácil: o vômito mais gráfico da mocinha (desnecessário mostrar), a parte com as dançarinas em Las Vegas (só um pretexto pra exibir peitos), e o detalhe da gravidez. Pareceu colocado sob encomenda pro público gritar “Eca!” em coro. Daria pra cortar meia hora de projeção, no mínimo. Mas teria que deixar a melhor gag – o Seth jogando um brinquedinho pra menina pegar, como se ela fosse um cachorro.

P.S.: Até uns dias atrás eu nem me lembrava que o Paul Rudd existia. Aí revi “As Patricinhas de Beverly Hills”, título injusto não apenas pra uma ótima adaptação de um romance da Jane Austen, mas também pra uma das grandes comédias sobre adolescentes. Daí vi “A Razão do Meu Afeto”, com a Jennifer Aniston, em que o Paul interpreta um professor gay. Em seguida veio a reprise de “O Virgem de 40 Anos”. Pronto: ao sair de “Ligeiramente Grávidos” eu já tinha um novo ídolo.

2 comentários:

Gabi Loka disse...

eu conheço o Paul Rudd (que eu não sabia o nome) pelo personagem em Friends, o Mike, nas ultimas temporadas fazendo o papel do namorados e depois marido da Pheobe. É dali que eu conheço ele.

Gosto da parte que eles estão tento crise em las vegas e ficam sentando em varios tipos de cadeira rssss

Anônimo disse...

esse filme é sensacional! adoro a inversão de generos! jud apatow é ótimo, já trouxe essa inversão com o virgem de 40 anos, e nesse filme, ele faz ainda melhor.
" Ashley Judd mais bonita"...dona lola, mais um comentário desnecessário, e bem incoerente, em relação a uma mulher tão linda? ambas, katherine e ashley sao lindas....