quarta-feira, 17 de outubro de 2007

CRÍTICA: PARANÓIA / Mais "pára" que "nóia"

Ai, ai. Por que, ó Deus, por que vou ver um filme que claramente não foi feito pra mim? “Paranóia” é certamente pro público adolescente, de preferência aquele que ao ouvir a palavra “Hitchcock” diz “Saúde!”. Em inglês o thriller chama-se “Disturbia”, praticamente a melhor idéia dos criadores, já que remete à “Subúrbia”. E não custa lembrar que subúrbio nos EUA é bem diferente que no Brasil. É onde vivem os ricos, protegidos em suas casas sem grades. E é um lugar que o cinema americano já retratou como cenário de várias perversões, de “Beleza Americana” à “Felicidade”. Então “Paranóia” é uma grande imitação de “Janela Indiscreta”, mas aposto que o diretor prefere chamar de homenagem.

O filmeco até que começa bem, com um acidente de carro bastante aterrorizante que mata o pai do protagonista. Sim, claro que o personagem principal é um teen, já que esta obra foi realizada pra atender aos adolescentes – já falei isso antes? Em seguida o carinha dá um soco no seu professor de espanhol e é condenado a três meses de prisão domiciliar, com direito à tornozeleira eletrônica (algo alienígena pra gente). Não é tão ruim, é? O sujeito poderia aproveitar suas férias forçadas pra ler – alguém deveria ensinar-lhe que livro é aquele negócio de papel com páginas no meio –, ver TV, pensar na vida, cuidar do jardim (ele não precisa ficar em casa, pode tomar ar fresco), mas aí teríamos um filme provavelmente mais interessante. Sua agente penitenciária aponta que é bom que ele encontre algo construtivo pra fazer, já que vários prisioneiros tornam-se meio fracos das idéias após uns dias de confinamento. Seria até legal se “Paranóia” virasse um “Iluminado” (vira, mas só no final, quando o vilão arromba uma porta com um machado). Nada disso. O que se segue é mais de uma hora (lenta) sobre um guri chato observando seus vizinhos suburbanos igualmente chatos.

Podia ser instigante se a gente tivesse dúvidas do que o adolescente tá vendo. Sabe, será que ele realmente tem um serial killer como vizinho ou é pura paranóia? Um dos problemas é que essa dúvida não existe. Lembra de “Plano de Vôo”, em que a gente não suspeitava nem por um segundo que a Jodie Foster podia estar inventando a filha que desaparece no meio do avião? É parecido. Não que o ator teen tenha a credibilidade da Jodie. Aliás, mal sei quem é o indivíduo. O nome soou familiar e reconheci a falta de talento de um tal de Shia LaBeouf nos créditos. Ele tá em “Transformers”, que, acredite se quiser, já é a terceira maior bilheteria do ano. E dizem as más línguas que Shia estará em “Indiana Jones 4”. Ou seja, é o nome da hora. Hollywood deve estar com uma enorme escassez de jovens bonitinhos, pelo jeito.

Mas meninas bonitinhas é o que não falta. Logo, Shia passa boa parte de “Pára!” observando a Sarah Roemer de bíquini (também não faço a menor idéia quem seja; ela tá em alguma cena de “O Grito 2”). Vi “Pára” nos EUA e houve um ou outro espectador mais incauto pulando na poltrona. Imagino que, pra uma platéia brasileira, o grande susto seja o close dado pro bumbum da Sarah, mostrando um bíquini que nem nossas avós usam mais no país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza. Pô, em “Janela Indiscreta” tínhamos a chance de tomar o lugar do voyeur do James Stewart e ver a Grace Kelly desfilando toda uma coleção de moda. E ainda por cima havia um pouco de suspense. Aqui são cenas e mais cenas perdidas do Shia babando pela Sarah. Poupem-me! (Inclusive, já vou avisando: da próxima vez que um filminho mencionar a Síndrome de Estocolmo e se apressar em explicar o que é isso, tratando seus espectadores como se tivessem deficiência de aprendizagem, eu deixo a sessão).

Como nada é tão ruim que não possa piorar, finalmente chega o final. Tenebroso. O vilão precisaria no mínimo ter três irmãos gêmeos pra estar em tantos lugares ao mesmo tempo. E lógico que Shia vira herói e ganha de prêmio a garota e um robô particular que se transforma em carro. Peraí... Tô confundindo o filme adolescente?

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