quarta-feira, 27 de novembro de 2002

CRÍTICA: HOMENS DE PRETO 2 / Óculos escuros e Armani dois, a missão

Após constatar que os cinemas de São Paulo estão exibindo exatamente os mesmos blockbusters que os daqui, e de ver com meus próprios olhos que Floripa só tem três salas, mais duas alternativas, começo a achar que Joinville não é tão provinciana assim. Ville! Ville! Mas isso nem vem ao caso. Bom, antes de me acusarem de não gostar de filme algum, quero manifestar que amo de paixão "Homens de Preto". O de 1997, bem entendido. Ri de montão com aquela escrachada ficção científica. Até a considerei a melhor produção do ano. Adoro o mote "salvando a Terra da escória do Universo", ou algo assim. Adoro o personagem da Linda Fiorentino, que trabalhava num necrotério e dizia "Odeio os vivos". Adoro a alquimia entre o Will Smith e o Tommy Lee Jones. Adoro o clima de história em quadrinhos, que atingia o ápice quando o Will ajudava uma alienígena em forma de polvo a dar à luz. Adoro até a música-tema do próprio rapper. "MiB" é tão inventivo e audaz que a gente relega seu custo abusivo e torce pra que a fórmula não vire uma franquia.

Então, havia necessidade de fazer "MiB 2"? Provavelmente não; pra se divertir bastaria alugar o original. Mas fui toda faceira assistir à seqüência. Afinal, o trailer era ótimo. E não é que o número dois não seja engraçadinho. Ele tem boas piadas. É só que todos os chistes legais estão no trailer. Juro! Quero que minha mãe seja abduzida por um monstro intergalático se eu estiver mentindo. O cãozinho que canta "I Will Survive"? Tá no trailer. Aliás, ele rouba as cenas em que aparece. O diálogo entre o Will e um ET numa língua que lembra rap? Tá no trailer. A cara do Tommy ao ser abordado no correio? Idem. E também tá lá a melhor piada do filme, em que um agente chega dirigindo um carrão, estaciona e é sugado pelo volante. O Tommy pergunta se o carro sempre vem com esse acessório, e o Will responde: "antes vinha com um negão, mas ele sempre era parado pela polícia". O politicamente incorreto foi uma das qualidades do "MiB" do último milênio. A única gracinha que não tá no trailer envolve o Will que, após atirar em vários clones, se atrapalha com um tipo de amortecedor. Ah, os seres do armário também são fofos. É gratificante saber que existem colônias imensas de microorganismos no meu closet.

Fora isso, não dá pra entender por que inventam de fazer uma seqüência, se o pessoal não tem nada de novo pra acrescentar. É só pra reciclar as piadas? No primeiro "MiB", a dupla de preto salvava o universo. Desta vez, tchan tchan, eles salvam o universo. E, depois de cinco anos de intensa negociação salarial, Tommy e Will parecem cansados. Pra compensar, eles contracenam com monstrinhos toda a hora. Mas até os aliens ficam chatos depois de um tempo. É como se a equipe de efeitos especiais estivesse gritando "Olha, mamãe, o que consegui criar no meu computador!". E o vilão de 97 era mais convincente, mais assustador. Agora eles têm de enfrentar uma vilã de lingerie que vira milhares de serpentes. Ela é interpretada pela Lara Flynn Boyle arqueando as sobrancelhas, e é tão curvilínea quanto uma cobra esticada. Mas não quero falar mal da Lara; é seu personagem unilateral que não lhe exige nada.

O maior problema está no roteiro sem amarração. Não dá pra entender por que, no início, o Will é um expert que derrota sozinho um minhocão. Assim que o Tommy é desneuralizado (não pergunte), o Will transforma-se num incompetente. O que aconteceu, transfusão de cérebros? E algumas piadinhas simplesmente não funcionam. Por exemplo, posso estar falando por mim, mas eu já desconfiava que o Michael Jackson era um ser de outro planeta. A anedota sobre o Spielberg, produtor do filme, soa contida demais; e o prólogo, que seria uma paródia do célebre trash do Ed Wood, foi tão sem graça que já me deixou preocupada.

Ainda assim, "MiB 2" não é o pior dos mundos. Vale a pena ver o rosto embasbacado dos americanos ao serem desmemorizados por aquele trocinho especial. Pena que seja tão vale a pena ver de novo, né?

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