sábado, 29 de novembro de 2003

CRÍTICA: A TAÇA DO MUNDO É NOSSA / Erguendo a taça

Antes de “A Taça do Mundo é Nossa” começar, fiz cócegas no maridão pra ele ir entrando no clima. E ele: “Tá, vou tentar entrar no clima. Qual filme a gente vai ver mesmo?”. Talvez essa falta de entusiasmo explique por que ele detestou a comédia que eu adorei. Mas, antes de entrar nos detalhes, uma retrospectiva da minha relação amor e ódio com a turma do Casseta e Planeta. Eu era apaixonada pelo TV Pirata, de quem os Cassetas são mais ou menos discípulos. E gostei deles desde que apareceram, antes ainda do programa de TV. Na encarnação em que fui redatora publicitária, meus colegas adaptavam aquela música do Casseta que dizia “Eu faço vídeo... Vídeo... Vídeo... Vagabundo é a PQP!” pra “Eu faço texto... Texto...” e cantavam pra mim em coro. Eu não perdia um só programa nos seus primeiros anos de TV. Mas, sei lá, com o tempo eles foram ficando cada vez mais vulgares, mais infantis, e hoje o programa tá cheio de mulher semi-nua que mais parece saída de “Zorra Total” ou afins. Ou seja, atualmente nem os acompanho todas as terças. E o trailer de “Taça” era um lixo sem fim, com direito a uma só piadinha decente: uma que mencionava a participação especial de Tom Cruise com um saco na cabeça. Quer dizer, tal qual o maridão, eu não esperava muito do filme. Mas ele me cativou legal.

Acho que o longa tem aquilo que anda faltando na TV: uma espécie de unidade, de ritmo, eu ousaria até dizer de enredo. Um chiste isolado não é engraçado, mas vários deles amarrados vão envolvendo o espectador num crescendo – opa, olha o duplo sentido aí. A história se passa nos anos 70, quando um grupo de terroristas bobões tenta roubar a taça do tricampeonato. Os Cassetas aproveitam a época pra mirar nos seus alvos preferenciais, como o Pelé dizendo “entende?”, e o Roberto Carlos com sua risadinha típica. Surgem desde referências batidas do tipo “Abaicho a ditadura” (sic) até as mais sofisticadas, como o adesivo “Agora é Médici” num carro. Não sei bem quem capta essas bossas. O adolescente atrás de mim, por exemplo, perguntou pro outro: “Agora é quem?!”. E é óbvio ululante que nem todas as gags funcionam. Algumas são pesadas; eu poderia viver sem a do dedo esguichando sangue. A que o respeitável público mais aplaude é homofóbica, pra variar. Um sujeito diz pra alguém: “Vou te por no pau de arara. (Pausa). Sargento Arara, vem cá!”. Coisa assim. E há várias absolutamente previsíveis, como o trocadilho entre aparelho (esconderijo pra terrorista) e aparelho de dente. E, tudo bem, concordo que um personagem fumar todas que encontra pela frente seja clichezão, mas o negócio faz rir por causa do Helio de la Peña. Aliás, taí o principal charme de “Taça”: o carisma dos atores. É difícil não gostar deles. A Maria Paula, única mulher do longa, é a parceira ideal. Ela nos faz esquecer como, nos primórdios, os Cassetas penaram pra achar uma apresentadora.

Gostaria de contar algumas piadas que registrei, mas confesso que elas se esvaíram da minha cabecinha privilegiada com uma rapidez estonteante. Não é o tipo de humor que a gente leva pra cova, digamos assim. Todavia, os créditos (quase) finais trazem pérolas como “Direção: Michael Schumacher; Participação especial: Julia Roberts (não topou); Deborah Secco (só topou filmar)”. Super bonitinho. É divertido um cara ver o Che Guevara e gritar “Raul Seixas!”. Quando enfim surge o Che como latin lover, ele tá hilário. Vira pra Maria Paula e diz, em portunhol, “Vamos fazer el amor como se faz en Cuba”, e a M.P., “Não, em Cuba não. Dói muito”. Gostei dos americanos caçando malditos vietcongues na Amazônia, e de um tal de Wladimir trocar o nome pra Vladimir pra não ser identificado. E, lógico, amei a sacanagem com os críticos de cinema. A gente merece.

Resumindo, adorei o clima. Contei pro maridão e ele rebateu: “Clima? Com este ar-condicionado?! Acho que peguei uma pneumonia!”. Ou quem sabe o que me conquistou mesmo foi a frase “Dolores é uma mulher impressionante”. Eu já sabia! Dolores é meu nome verdadeiro...

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