terça-feira, 27 de novembro de 2001

CRÍTICA: OS EXCÊNTRICOS TENEMBAUNS / Mais um diretor excêntrico

Não verei "Fomos Heróis" porque discordo do tempo verbal: foram não, meus americanos docinhos de chuchu, vocês são heróis. Prova disso é que, sempre que perdem uma guerra na vida real, vocês a vencem nas telas. Meus ídolos! Em contrapartida, fui assistir a outro veterano de filmes da Guerra do Vietnã, o Gene Hackman. Todo mundo adora o Gene porque ele é um dos raríssimos atores que alcançaram o estrelato sem serem bonitões. Prestigiar uma produção com ele faz com que eu me sinta uma crítica melhor, além de passar a impressão que não freqüento o cinema só pra ver o bumbum do Mel Gibson, por exemplo. Mas "Os Excêntricos Tenembauns" não farão carreira brilhante em Joinville. Havia seis pessoas na sala. O público prefere o Mel, mesmo com o bumbum uniformizado.

Agora vou me ater a falar de "Os Excêntricos Tenembauns". Permita-me abreviar o título para "ET". Se você vir a comédia, sentirá que essa abreviação vem a calhar. "ET" parece dirigido por um extraterrestre. Conta a história de uma família bastante disfuncional. Gene, o pai, abandona a prole e só volta vinte anos depois. Até lá, seus filhos prodígios já cresceram e passaram da idade de serem precoces. Ben Stiller, o mais velho, um gênio financeiro na infância, vira um pai amargurado e superprotetor. Gwyneth Paltrow, antes uma dramaturga de sucesso, hoje vive trancada no banheiro. O caçula, um ex-astro do tênis, é apaixonado pela irmã. São personagens instigantes, mas tão mal-desenvolvidos que logo ficam somente chatos. Nelson Rodrigues, ajude os roteiristas!

Confesso que, quando vi o trailer de "ET", uns quatro meses atrás, me interessei pelo filme. Era bonitinho, tinha um elenco espetacular (fora o pessoal citado acima, Anjelica Huston, Danny Glover e Bill Murray ainda dão as caras, e a narração é de um dos Baldwins)... Agora entendo por que o trailer funciona, embora a comédia em si não engrene nunca. É que, no trailer, as piadinhas são editadas. Ninguém precisa esperar cinco minutos pra dar uma resposta. É isso que torna o clima do filme muito esquisito: longas pausas, excesso de detalhes, ritmo peculiar demais. Achei o negócio todo quase tão monótono quanto "Senhor dos Anéis".

Mas os críticos americanos amaram "ET". Duvido que o respeitável público haja sido tão complacente. Na realidade, tenho a impressão que este é um dos filmes que a platéia não entende, mas a crítica finge que entende. O espectador assiste à comédia, não ri nem uma vez, lê as resenhas e pensa: "sou uma besta mesmo, não consegui apreciar uma obra-prima dessas". Claro que, dependendo da personalidade do leitor, ele pode optar por iniciar uma campanha de demissão em massa dos críticos. Ou talvez ele mande uma mensagem ao resenhista dizendo: "vocês críticos de cinema são a pior praga da humanidade". Já aconteceu comigo, ao que respondi: pior que a fome? Pior que a violência? Pior que a corrupção? Pior que o Stallone?

Quando vi o nome do diretor, pensei: o que o Wes Craven, o cara de "Pânico", tá fazendo com uma comédia? Só aí percebi que tinha errado de Wes. O autor de "ET" é um tal de Wes Anderson, que já havia realizado "Rushmore". O sujeito faz um filme esquizo, vira queridinho dos críticos, é abordado por celebridades, que topam trabalhar pra ele de graça, e o público passa longe. De fato, Wes adota um tom que só posso definir como "mantenha distância". Seu estilo é tão pessoal que não envolve o espectador. Se bem que a trilha sonora de "ET" é bárbara – tem Rolling Stones, Beach Boys e Simon & Garfunkel. Não é à toa que o melhor momento do filme é uma montagem onde o Gene ensina os netinhos a se aventurarem na vida (roubar em supermercado, pegar carona em caminhão de lixo, etc).

Família excêntrica por família excêntrica, fico com "Um Hotel Muito Louco", que também tinha bicho empalhado, escritores-mirins, acidentes aéreos e incesto. As gracinhas de "ET" lidam com dedos decepados e beagles atropelados. Não é a minha praia. Mel, tira esse uniforme verde-oliva e volte logo!

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