quinta-feira, 28 de novembro de 2002

CRÍTICA: FEMME FATALE / Mulheres, tremei

Ó Senhor, quando chegam os filmes que vão concorrer ao Oscar? Só no mês que vem e olhe lá? Enquanto isso, haja paciência. Firme no meu propósito de pular "As Duas Torres", fui ver "Femme Fatale". Não, não é um filme francês. Antes fosse. Se bem que a última produção francesa que vi (não em Joinville, óbvio, mas em Montevidéu), "Oito Mulheres", foi um porre. E também tinha cena de lesbianismo, como em "Femme". Esses homens estão levando os filmes pornôs muito a sério. Será que eles realmente acreditam que existe pingolim daquele tamanho e que mulher gosta de beijar mulher?

Bom, "Femme" é quase um pornô soft. Começa com uma loira assistindo ao clássico noir "Pacto de Sangue" na telinha. Já é um mau sinal, pois eu fiquei torcendo pra que, de repente, o projecionista desistisse de "Femme" e mostrasse "Pacto" inteirinho. Mas não tive essa sorte. "Femme" continua com um cara que entra no quarto, esbofeteia a loira e a chama de vadia. Corta pro festival de Cannes. Há um grande golpe acontecendo, e a moça está envolvida. Há quinze minutos sem um diálogo sequer. Em compensação, a trilha sonora toca o Bolero de Ravel. Se você já cansou de "Bolero", fique sabendo que um "Bolero" estilizado cansa muito mais. A loira aparece no banheiro com uma garota ainda mais magra que ela e segue-se uma longa cena de lesbianismo, enquanto o cara ao lado vai roubando os diamantes que estão na roupa. Não pergunte. O golpe dá errado, a loira foge com os diamantes, passam-se sete anos, e só então surge o Antonio Banderas como um paparazzo para se envolver com a tal mulher fatal.

O interessante é que praticamente todos os personagens masculinos xingam a moça de vadia. Eu não contei, mas deve haver uns vinte "bitch" no filme. A dita-cuja é interpretada por uma ex-modelo que eu nunca ouvi falar, nunca vi mais magra. Mas dizem que Rebecca Romijn-Stamos esteve em "X-Men" e "Rollerball". A pobre coitada, além de ter três nomes, ainda tem um que é impronunciável. Quando faz strip tease pra um moço que parece entediado num bar que parece ser gay, ela me lembrou uma mistura entre a Kim Basinger e aquela uma de "Showgirls". Pra quem gosta de mulheres de três metros de altura, trinta quilos e nenhuma expressão facial, ela é um prato cheio.

Há cenas divertidas em "Fome Fatal", mas não creio que sejam intencionais. Por exemplo, imagine que você queira descobrir onde uns diamantes estão escondidos e a única que sabe é uma moça. O que você faz? Fácil. Pergunta umas duas vezes pra ela, ela não responde, você bate nela e a joga na frente de um caminhão. Ou do alto de uma ponte. Você nunca mais encontrará os diamantes, claro, mas que satisfação dá bater numa mulher e gritar "vadia!". Noutro ponto do filme, os malvados rendem um segurança de manhã. À noite, ainda estão com ele num carro, apontando-lhe uma arma. Isso que é paciência. E eu não entendi por que nocauteiam a camareira do hotel. É só por ser mulher? Nasceu fêmea, toma um kabong na cabeça?

Nota-se que "Fome Fatal" é a criação de um misógino. Esta é a vigésima-sexta obra de Brian de Palma. Em quarenta anos de carreira, o diretor já fez coisas ótimas como "Carrie, A Estranha", "Os Intocáveis" e o que deve ser sua obra-prima, "Um Tiro na Noite". Só que, nos últimos tempos, cometeu horrores como "Olhos de Serpente" e "Missão: Marte'. Sua marca registrada inclui "homenagear" o Hitchcock (quem disse que homenagem é quando os advogados não conseguem provar uma acusação de plágio?), tela dividida, muita câmera lenta, e um desprezo enorme pelo sexo feminino. Troca o disco, Brian. Poupe as mulheres.

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