sábado, 29 de novembro de 2003

CRÍTICA: POR UM TRIZ / Não basta ser noir pra ser bom

Eu poderia perguntar por que, faltando ainda meses pras férias, a programação tá tão baixo nível. Quero dizer, tá em cartaz “Scooby Doo 2” – é dose. Mas o que eu quero saber mesmo é por que logo no dia em que eu compareço ao cinema tem excursão escolar. Por quê, ó Senhor? Os pré-adolescentes se comportaram muito mal durante a sessão de “Por um Triz”, falando alto e trocando de lugar o tempo todo. Tudo bem, eu até entendo que eles tinham que se entreter com algo mais interessante que o filme, mas, sei lá, logo quando eu tô lá? Vou falar de “Por um Triz”, que é um thriller ruim-que-dói com o Denzel Washington, aquele lindo e maravilhoso que ganhou um Oscar recentemente, e quem disse que Oscar melhora a carreira dos astros? O Denzel, só pra variar, aqui faz um policial que peca, mas por um bom motivo, e precisa passar o resto da história encontrando os verdadeiros culpados. Em outras palavras, a mensagem segue essas linhas: roubar é feio, mas pegar emprestada a grana de um roubo pra financiar um tratamento de câncer pra amante que tá armando contra ele tá liberado. O personagem do Denzel tem “otário” escrito na testa, além de ser lerdinho que só ele. Qualquer espectador que já tenha visto um só film noir na vida vai conseguir descobrir com folga o que o policial leva horas pra decifrar. Mas ele não está sozinho. Tem uma outra detetive na trama, interpretada pela Eva Mendes (de “Ligado em Você”), uma bonitona que parece estar num eterno comercial de xampu. Ela faz também a ex-mulher do Denzel. O engraçado é que, como as duas únicas atrizes de “Por uma Atriz” são de origem latina, todos os puritanos e gélidos críticos americanos classificam o filme como sexy e caliente.

No caminho, nosso valente policial lerdinho conta com a ajuda de alguém que lembra o Daniel Dantas com excesso de peso. E, já que o filme se passa na Flórida, todos os personagens usam camisetas floridas, claro. Aliás, o título em português já se encarrega de contar o final do filme. Mas nem precisava. Depois dos primeiros cinco minutos a gente já sabe tudinho. É tudo tão previsível que eu fiquei me concentrando pra desvendar quem é o ator que faz o marido violento da amante do Denzel. É o rapaz da série televisiva de “Superman”, só que sem a capa e com mais músculos. Também filosofei sobre os possíveis crocodilos que poderiam incrementar “Por um Triz”. Ué, na Flórida não tem crocodilo? Se algum aparecesse e engolisse o Denzel, a Eva e todos os guris que atazanaram a minha sessão, talvez o filme tivesse salvação. Talvez.

Nenhum comentário: