sexta-feira, 28 de novembro de 2003

CRÍTICA: PREMONIÇÃO 2 / Sádicos, uni-vos!

Fui ver “Premonição 2” com o maridão e, antes do filme começar, tive que comparecer à toalete. E aí pinta aquele medo clássico que a porta não abra e eu passe o resto da vida trancada num banheiro. Portanto, testei a cumplicidade da minha paixão. Eu: “Se eu ficar presa no banheiro, o que você vai fazer?”. Ele: “Eu te conto o filme todinho”. Eu: “Não, amor, se eu demorar mais de cinco minutos pra sair de lá, você tem que me buscar”. Ele: “E se o filme estiver bom?”. Eu: “Amor, a gente vai ver uma seqüência de um terror adolescente. A chance do filme ser bom é menor que a de eu ficar presa no banheiro”. Mas eu fui e voltei a tempo de ver um monte de trailers, todos de terror. Um era uma picaretagem de “Ben, O Rato Assassino” e tinha centenas de ratos atacando um gato. Esse eu não vejo de jeito maneira. Aliás, deveriam proibir filmes assim. Matar meu vizinho de forma gosmenta tudo bem, mas um lindo bichano? O único trailer promissor era “Jason vs. Freddy”, o que deve ter deixado o Michael Myers (de “Halloween”) se matando de inveja. Imperdível esse duelo de serial killers. Tomara que venha uma continuação como “Freddy vs. Jason vs. Dr. Hannibal vs. Exterminador do Futuro vs. Bicho-Papão”.

Ahn, certo: “Premonição 2”. Tenho que falar do 1 antes. Seguinte: um rapaz prevê que o avião em que ele está vai cair, e sai correndo com uns amigos. O avião explode, mas os amigos vão morrendo de jeito bizarro. Por exemplo, moça toma chá. Xícara vaza em cima do computador. Computador tem curto-circuito. Moça vai até a cozinha. Moça escorrega. Moça tenta conter fogo com pano de prato. Pano de prato está embaixo de facas. Facas caem na moça. Não tô inventando, só não lembro como ela morre. São tantas emoções... Ou seja, é como se fosse a Lei de Murphy ao cubo. “Premonição 2” é igualzinho ao primeiro, só muda o cenário. Ao invés de acidente de avião, acidente de carro. Você pode ver toda essa seqüência muito bem filmada no trailer e poupar seu dinheiro. Se houver “Premonição 3”, teremos um belo acidente de barco, imagino. Mas, neste filme daqui, uma moça que dirige uma van com amigos vê todo um gigantesco acidente que está pra ocorrer na estrada. Ela se salva, mas seus amigos morrem. Ainda bem, diga-se de passagem, já que eles são um porre. Ela merece coisa melhor. Nossa heroína então faz nova amizade com uma mulher internada num hospício.

Pra ser honesta, o filme até que é bem assistível. Não sei o que é ao certo. Não é terror nem terrir e não tem suspense. Acho que é um filme cruel pra pessoas sádicas. Sabe, como se fosse uma versão mais animada de “Faces da Morte”? É uma produção que brinca com o espectador. A gente sabe que o cara vai morrer, só não sabe como. Há dezenas de pistas enganadoras. Um policial carrega uma arma apontando pra uma mulher grávida, essas coisas. Vamos chamar a primeira fatalidade depois do acidente de “morte-macarrão”. Também há uma cena apavorante no dentista, mas, convenhamos, qualquer cena com dentista já é apavorante. No fundo, o filme mostra como o mundo moderno é perigoso, tanto que os piores vilões são eletrodomésticos e automóveis. Ah, e mostra que carro americano é uma droga mesmo. Qualquer batidinha e ele explode. Ainda por cima, tem um air bag que não funciona nem que a vaca tussa. Mas basta alguém encostar no carro pra reverter a situação. Não procure lógica. A única lógica é que a gente morre quando é nossa vez.

Mas esse filme feito de pequenos clímax, dirigido pelo ilustre desconhecido David R. Elis e estrelado por um bando de anônimos, levou o maridão e eu a discussões filosóficas. Ao sairmos do cinema, pedi pra ele: “Conta das ocasiões em que você venceu a morte”. Ele: “Ahn... Teve aquela vez que a gente perdeu o avião, lembra? O avião não caiu, mas podia ter caído”. Eu: “Então não vencemos a morte. Se não caiu, tudo bem”. Ele: “Tudo bem porque não era você dentro do avião”. Eu: “Então vamos falar das suas premonições”. Ele: “Ah sim, essas foram várias. Mas nenhuma se realizou”.

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