quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

BREVE UPDATE SOBRE AS ELEIÇÕES AMERICANAS

Semana que vem, dia 5, acontece a Super Tuesday, em que quase metade dos 50 estados americanos realiza suas primárias. Daí vamos ter uma ótima noção de quem realmente serão os candidatos a presidente nas eleições de novembro. O Rudy Giuliani, ex-prefeito de NY e até pouco tempo o favorito entre os republicanos, saiu da disputa após ter ficado em terceiro lugar nas primárias da Flórida (um dos estados mais populosos). Ele agora apóia John McCain. McCain é um conservador de 71 anos e herói de guerra. Ele foi preso e torturado durante cinco anos, quando lutou no Vietnã, e por isso é o único presidenciável republicano contra a tortura. Seu maior rival continua sendo Mitt Romney, um milionário mórmon. As chances de McCain são maiores, e ele é considerado o candidato que mais vai dar trabalho aos democratas.
O favoritismo é dos democratas, porque o Bush, republicano, é tido como o pior presidente de todos os tempos, e porque sempre há uma alternância de poder entre os dois partidos. É raro um partido ficar mais de oito anos consecutivos no governo. Entre os democratas, a luta segue acirrada entre Hillary Clinton e Barack Obama. John Edwards desistiu de sua candidatura e é quase certo que não apóie nenhum dos dois abertamente. Obama tem surpreendido, mas sua pedra no sapato pode ser o eleitor latino. Como latinos e negros competem entre si no mercado de trabalho pouco especializado, há uma certa rivalidade entre os grupos. Alguns analistas acreditam que latino não votaria no Obama, por ele ser negro. A vitória de Hillary na Flórida meio que comprova isso. E lembre-se que os hispânicos constituem o maior grupo racial dos EUA (sim, aqui latino é raça, e muito maior que os 13% dos negros). Hillary agora está com uma leve vantagem sobre Obama, mas uma definição mais concreta só virá na terça.

CRÍTICA: JUNO / Juno dá enjôo

Como vi que “Juno” já chegou a algumas salas brasileiras (estréia oficial no Brasil: 22/2), vou falar um pouquinho dele. Mas só um pouquinho. Primeiro preciso confessar que não vi a comédia inteira. Eu e o maridão chegamos atrasados ao cinema e perdemos cinco minutos, acho. Odeio quando isso acontece! Perdi toda a parte do Rainn Wilson e do teste de gravidez, mas como já tinha visto o trailer 3,142 vezes, e todas as vezes tinha o Rainn usando um diálogo muito do esquisito pra falar com a Ellen Page, era como se eu não tivesse perdido nada. Por sinal, a imensa maioria dos críticos americanos, que ama o filme, sente que é preciso acostumar os ouvidos pros diálogos hiper-construídos e cheios de referências pops (ninguém fala desse jeito). Eles dizem que o espectador tem que sobreviver aos primeiros vinte minutos. E isso que adoraram “Juno”! Imagina eu que não gostei, e ainda me poupei de 5 desses 20 minutos torturantes.

A maior culpada pela comédia é a roteirista Diablo Cody. Não dá pra acreditar no agito em torno dessa mulher, favorita pra levar o Oscar de roteiro original (é uma piada?). Ela é como se fosse a nossa Bruna Surfistinha. A Diablo foi uma stripper, vendeu sexo por telefone, fez um blog, alguém a descobriu e pediu que ela redigisse um roteiro, e ela escreveu “Juno” na mesma velocidade que o Stallone escreveu “Rocky”. Agora está super badalada, colunista de várias publicações, ganhando um dinheirão por mil e um roteiros. Fico feliz que uma mulher consiga tanto sucesso nesse mundo masculino que é Hollywood, mas torço, de coração, pra que seus próximos roteiros sejam melhores e venham a justificar a fama que ela conquistou. Porque, cedo ou tarde, tenho a impressão que a mídia vai descobrir a farsa que é “Juno”.

E olha que eu adoro a Ellen Page. Ela está ótima em “Hard Candy” (thriller interessante que levou o nome de “Menina.má.com”). Mas sua personagem junística é bastante insuportável: antipática, chata, dona da verdade. E fala como se estivesse discursando. Não é por nada não, mas se alguém na vida real falasse como ela (ou como o Hugh Laurie em “House”), não haveria ninguém escutando. E essas gracinhas d'ela usar um telefone em forma de hamburger não são suficientes pra que eu a perdoe.

Não é preciso uma longa análise pra entender porque os conservadores gostam de “Juno” (que já faturou 100 milhões de dólares nas bilheterias, e ainda falta um mês pro Oscar!). É verdade que no filme há sexo antes do casamento, o que a direita cristão condena, mas é só uma vez, e é tão puro e cheio de amor! E olha o resultado desastroso, uma gravidez! Assim os adolescentes aprendem que devem esperar! A menina contempla a possibilidade de um aborto (dentro da lei) durante mais ou menos dois minutos, até se convencer que vai dar o bebê pra adoção. Ok, pelo menos ela considera abortar! É mais do que se pode dizer de “Ligeiramente Grávidos” e “A Garçonete”, outras duas comédias do ano passado que deixam claro que, se você é mulher e engravidar sem querer, tem várias opções: ter o bebê, ter o bebê, ou ter o bebê. A escolha é sua.

Toda a cena em que a protagonista vai a uma clínica de aborto é um golpe aos movimentos feministas das últimas três décadas, que possibilitaram que uma mulher tivesse esse direito em alguns estados americanos. Juno chega lá e encontra uma coleguinha protestando na porta. Perdão, uma só? Com um pôster feito à mão clamando que fetos têm unhas? Em que país essa gente vive? Não deve ser nos EUA, onde organizações ligadas à direita cristã explodem bombas dentro de clínicas de aborto. E sorry, não adianta tentar vilanizar a técnica em ultrassom que respira aliviada que a adolescente vai dar o bebê pra adoção, e leva a maior bronca. Estou com ela. É um desserviço “Juno” glamorizar a gravidez precoce.

O que não entendo bem é porque tanta gente mais progressista acha o filme tão esperto e especial. Não aceito as comparações com “Pequena Miss Sunshine”. A única semelhança entre eles é que ambos começaram como filmes independentes, fizeram sucesso e chamaram a atenção do Oscar. Mas “Sunshine” critica o modo de vida americano, enquanto “Juno” o acata com todas as forças. Qual é a enorme contravenção que o filme comete? Conter um close de testículos balançando dentro de um short? Não é meio pouco não?

OSCAR 2008 – Indicações

Melhor Filme
Conduta de Risco (Michael Clayton)
Desejo e Reparação (Atonement)
Juno
Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country for Old Men)
Sangue Negro (There Will Be Blood)


Melhor Diretor
Jason Reitman – Juno
Joel e Ethan Coen – Onde os Fracos Não Têm Vez
Julian Schnabel – O Escafandro e a Borboleta
Paul Thomas Anderson – Sangue Negro
Tony Gilroy – Conduta de Risco

Melhor Ator
Daniel Day-Lewis – Sangue Negro
George Clooney – Conduta de Risco
Johnny Depp – Sweeney Todd
Tommy Lee Jones – No Vale das Sombras
Viggo Mortensen – Senhores do Crime

Melhor Atriz
Cate Blanchett – Elizabeth: A Era de Ouro
Ellen Page – Juno
Julie Christie – Longe Dela
Laura Linney – The Savages
Marion Cotillard – Piaf, Um Hino ao Amor

Melhor Ator Coadjuvante
Casey Affleck – O Assassinato de Jesse James
Hal Holbrook – Na Natureza Selvagem
Javier Bardem – Onde os Fracos Não Têm Vez
Philip Seymour Hoffman – Jogos do Poder
Tom Wilkinson – Conduta de Risco

Melhor Atriz Coadjuvante
Amy Ryan - Medo da Verdade
Cate Blanchett - Não Estou Lá
Ruby Dee - O Gângster
Saoirse Ronan - Desejo e Reparação
Tilda Swinton - Conduta de Risco

Melhor Roteiro Original
Conduta de Risco - Tony Gilroy
Juno - Diablo Cody
Lars and the Real Girl - Nancy Oliver
Ratatouille - Brad Bird
The Savages - Tamara Jenkins

Melhor Roteiro Adaptado
Desejo e Reparação - Christopher Hampton
O Escafandro e a Borboleta - Ronald Harwood
Longe Dela - Sarah Polley
Onde os Fracos Não Têm Vez - Joel e Ethan Coen
Sangue Negro - Paul Thomas Anderson

Melhor Fotografia
O Assassinato de Jesse James – Roger Deakins
Desejo e Reparação – Seamus McGarvey
O Escafandro e a Borboleta – Janusz Kaminski
Onde os Fracos Não Têm Vez – Roger Deakins
Sangue Negro – Robert Elswit

Melhor Direção de Arte
A Bússola de Ouro
Desejo e Reparação
O Gângster
Sangue Negro
Sweeney Todd

Melhor Figurino
Across the Universe
Desejo e Reparação
Elizabeth: A Era de Ouro
Piaf - Um Hino ao Amor
Sweeney Todd

Melhor Edição
O Escafandro e a Borboleta
Na Natureza Selvagem
Onde os Fracos Não Têm Vez
Sangue Negro
O Ultimato Bourne

Melhor Maquiagem
Norbit
Piaf - Um Hino ao Amor
Piratas do Caribe: No Fim do Mundo

Melhor Edição de Som
Onde os Fracos Não Têm Vez
Ratatouille
Sangue Negro
Transformers
O Ultimato Bourne

Melhores Efeitos Sonoros
Os Indomáveis
Onde os Fracos Não Têm Vez
Ratatouille
Transformers
O Ultimato Bourne

Efeitos Visuais
A Bússola de Ouro
Piratas do Caribe: No Fim do Mundo
Transformers

Melhor Trilha Sonora
O Caçador de Pipas – Alberto Iglesias
Conduta de Risco – James Newton Howard
Desejo e Reparação – Dario Marianelli
Os Indomáveis – Marco Beltrami
Ratatouille – Michael Giacchino

Melhor Canção Original
“Falling Slowly" - Once
“Happy Working Song" - Encantada
"Raise It Up” - August Rush
"So Close" - Encantada
"That's How You Know" - Encantada

Melhor Animação
Persépolis
Ratatouille
Tá Dando Onda

Melhor Filme Estrangeiro
Beaufort (Israel)
The Counterfeiters (Áustria)
Katyn (Polônia)
Mongol (Cazaquistão)
12 (Rússia)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

TEM QUATRO RODAS? É CARRO

Visitei o NAIAS (North American International Auto Show,) um dos maiores salões automotivos do mundo, porque acontece aqui em Detroit, e achei que fica mal que jornalistas venham do Brasil pra prestigiar o evento, e logo eu, que tô morando aqui, não compareça. Então com muito esforço desembolsei 12 dólares. O maridão foi também, bem mais entusiasmado que eu, lógico, porque ele é homem. Sério, deve ter alguma coisa sobre carros, velocidade e potência que apela quase que exclusivamente ao sexo masculino. Quero dizer, conheço várias mulheres – praticamente todas, pra ser franca – que entendem e gostam de carro mais do que eu. Eu não sei distinguir marcas ou modelos, apenas cores, e algumas são meio parecidas. Já confundi uma Kombi com um Fusca (só uma vez!). Na minha opinião, carro é só um meio de locomoção pra me levar de um lugar a outro. Não sei se estou sendo clara sobre como ir a um salão desses representa tanto pra mim como ir a uma convenção de jujubas amarelas ou a uma feira de degustação de frutos do mar (não como esses troços).
Mas o NAIAS atrai mais de 6 mil jornalistas de todo o planeta e acrescenta uns bons 100 milhões de dólares à combalida economia de Detroit. Provavelmente só eu penso que a combinação de carros e modelos magérrimas decorando os automóveis lembre a ante-sala do inferno. Inclusive, quando vi o maridão gritar “Ahh! Um Rolls-Royce!” e correr em direção ao trambolho que custa meras 495 mil verdinhas, percebi que sou uma voz clamando no deserto. Ainda disparei um “Te conheço?!”, mas ele já estava babando ao lado do carrão e tirando dezenas de fotos. Um segurança, tentando ser gentil, me perguntou se eu gostava daquele carro. Eu respondi a verdade, que carro pra mim não é sinal de status nem nada, e eu nem sabia o que estava fazendo ali, e ele carinhosamente fez “sim” com a cabeça. Ignoro se sua reação foi por ele também pensar assim ou por ter ouvido a vigésima-quinta resposta igual no dia vindo de uma visitante-mulher pra lá de entediada.
O que mais impressiona nos EUA é a enorme quantidade de pickups circulando pelas ruas, e no salão é parecido. Só tem carrão, desses que consomem montes de litros de gasolina, e que os ecologistas juram que daqui a pouco serão tão vilões quanto o cigarro é hoje. Um veículo pequeno, como o Uno-Mille que eu tinha no Brasil, não existe aqui. No NAIAS havia somente uma exposição de um mini-carro, o Smart, acho que da Subaru. É pra dois passageiros e é uma gracinha, o tipo de carro que eu gostaria de ter, ainda mais se fosse movido a energia solar (meu sonho de consumo). Custava a partir de 11,500 dólares. Nas paredes dessa exposição havia vários cartazes escrito “Abra sua mente” e “Pense diferente”, porque, realmente, pra fazer americano comprar um carrinho desses, só com uma grande mudança de valores ou uma subida radical no preço do combustível. Suponho que essa última alternativa virá antes. (Aguarde uma coluna minha em que comentarei o excelente documentário “The End of Suburbia”, que explica como os subúrbios nos EUA estão fadados ao fracasso quando ficar caro demais dirigir um carro. Outro documentário que planejo discutir chama-se “Quem Matou o Carro Elétrico?”).
Deve ter sido o mesmo pessoal que matou o transporte público em Detroit. Ou seja, as empresas automobilítiscas americanas, que produzem carros mais caros, mais poluentes, e menos eficazes que suas rivais asiáticas, fecham fábricas em Michigan para abri-las no México, pagando um décimo dos salários, e ainda têm a cara de pau de distribuir sacolas dizendo “Buy American” (algo como “Compre Produtos Americanos”), como a Ford fez durante o salão. Esse é um slogan tão da década de 80...

Enquanto isso, em Nova York...
Tô chutando, mas imagino que Nova York seja a única cidade americana em que a maior parte da população não tem carro. Em Manhattan, pelo menos, poucos edifícios vêm com garagens, o que quer dizer que, pra guardar o carro, é preciso pagar um estacionamento. O preço disso varia entre 200 e 1,300 dólares por mês. Só pra estacionar! Fora o gasto com gasolina, impostos diversos, e o próprio valor do carro. Compare com os 2 dólares que sai a passagem de metrô, e a gente começa a entender por que nos filmes do Woody Allen todo mundo só anda de táxi.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

BOLÃO, A MAIOR EMOÇÃO

Perdi as contas, mas acho que esta é a 21a edição do meu tradicional bolão do Oscar. Geralmente é assim que funciona: quem quiser entrar paga uma quantia um tanto simbólica (ano passado foi o quê, 10 reais? Metade do preço do ingresso em SP!) e aposta nas vinte categorias principais. Eu deixo de fora documentários, curtas, e curtas de animação porque eles passam num circuito restrito demais. É quase impossível de assistir (se bem que o Detroit Institute of Arts vai passar os curtas de animação indicados. Ueba!). Na noite do Oscar, que este ano, se acontecer, será num domingo, dia 24 de fevereiro, todos os participantes terão em mãos todas as apostas de cada um. A gente confere ao vivo, o que tranforma aquela cerimônia chatérrima numa disputa muito mais emocionante. Ano passado deu empate: Silvio (vulgo maridão), Guilherme e essa pedra no meu sapato chamada Diogo ganharam. Cada um acertou 13 das 20 categorias. Ou seja, foi um ano difícil. O recorde, modéstia à parte, é desta que vos fala, que ou no ano do “Titanic”, ou quando ela vendeu sua alma no ano de “Senhor dos Anéis 3”, acertou 17. Mas esses tempos gloriosos parece que não voltam mais. Em 2006, no ano em que “Crash” bateu “Brokeback Mountain”, quem levou o bolão foi a Alexandra... agora que eu vi, com 17 acertos. Nem o recorde é mais meu! Ó decadência! Deixa eu ir mais pra trás pra ver se encontro um ano em que ganhei. 2005 prefiro pular. Foi o ano em que quase todos apostaram em “Aviador” mas deu “Menina de Ouro”, e o Diogo ganhou isolado, com 16 (o segundo colocado, que tampouco fui eu, fez 13. Eu tô tentando fazer tratamento psiquiátrico à base de hipnose pra esquecer este trauma, mas ainda me lembro que faltavam anunciar umas 5 categorias e ninguém mais podia alcançar o Diogo). Ok, em 2004 eu devo ter sido vitoriosa, ou por que iria insistir no erro de me humilhar organizar o bolão? Ahá! É isso aí! Foi o glorioso furacão de “Senhor dos Anéis 3”. Não deu pra torcer muito porque, você sabe, eu odiei tanto o primeiro hobbit que nem vi os outros dois, mas os fins justificam os meios, e o importante foi minha esplendorosa vitória no bolão. Mais pra trás algum vírus devastou meu computador, então não sei os resultados. Ou talvez eu tenha alguma coisa em papel, mas ficou lá em Joinville. Melhor assim. Quisera eu ter apagado 2005 também.

Todo ano há várias sugestões de mudanças de regras: organizar o bolão sem valer dinheiro, fazer com que as categorias principais valham o dobro de pontos, dar um prêmio pro segundo colocado, incluir documentários na jogada, não permitir a participação do Diogo, essas coisas. Como sou muito democrática – digo isso sem ironia -, considero todas. Mas nunca chegamos a um consenso (o mais próximo de um consenso foi, claro, a exclusão do Diogo – faltou um voto). Eu queria propor que este ano, excepcionalmente, não entre dinheiro no bolão, e só haja uma vencedora moral (já coloco no feminino pra dar sorte). Sei que é chato, mas é que, como estou em Detroit, e como quero convidar amiguinhos americanos pra participar, fica complicado trabalhar com duas moedas e efetuar depósitos. E também existe o perigo (distante) do Oscar não se realizar, por causa da greve. Eu me sentiria péssima recolhendo dinheiro, e a cerimônia não acontece. Talvez sem a parte financeira mais gente entre. Já falei com a Hilcea e, se preciso for, se a gente continuar apostando grana, ela topa organizar tudo no Brasil (ela já fez isso quando eu estive em Moscou). O que você acha? Por favor, manifeste-se! Todos estão mais que convidados a participar. Com o blog, acho que vai ficar mais fácil e dinâmico.

No meu caso, será a primeira vez que estarei nos EUA em tempos de Oscar (bom, tecnicamente a segunda. A primeira vez foi em 1985, mas naquela época ainda não organizava bolões). Certamente nunca terei visto tantos indicados como agora. Mas ter visto mais filmes garante a vitória no bolão? Desconfio que não, infelizmente. Acho que a gente tende a apostar nos que gosta mais, não nos que vão ganhar. O tempo dirá. Por enquanto, aguardo suas opiniões sobre o bolão.

CRÍTICA: CONDUTA DE RISCO / Advogado margarina

Tem quem viva reclamando das traduções pros nomes de filmes, mas vamos admitir que fizeram muito bem em trocar “Michael Clayton” por “Contuta de Risco”. Por mais genérico que seja “Conduta” (pode se referir a qualquer filme, de “Superbad” a “Encantada”), pelo menos não é nome de margarina. Juro que gostaria de ter apreciado mais “Conduta”, porque ele discursa contra as grandes corporações. Mas não consegui. Nada me cativou muito. Não é ruim, mas também tá longe de ser bom. Dos cinco candidatos ao Oscar de melhor filme, é o mais fraquinho depois de “Juno”.


Todo mundo que não seja de direita adora o George Clooney, e é óbvio que ele tá bem na margarina. Mas fica a impressão que “Conduta” é um projeto pra ele ganhar Oscar. Como ele foi indicado, já é meio caminho andado. Por esse ângulo, o filme tem validade (alguns analistas crêem que ele seja o maior obstáculo pro Daniel Day-Lewis levar seu segundo Oscar). Mas quem rouba todas as cenas é o Tom Wilkinson, que concorre a coadjuvante e tá condenado a perder pro Javier Bardem.

Um dos pouquíssimos críticos que não gostou tanto de “Conduta” o chamou de “Erin Brokovich sem peitos”. Mas pra mim o filme mais parece acompanhante de “À Procura da Felicidade”: um carinha cheio de problemas tenta ensinar lições de moral pro filho. Tá certo, tô sendo injusta. A margarina é o oposto da celebração do capitalismo que é “Felicidade”. O problema é que “Conduta” não é exatamente contra as grandes corporações, mas contra as decisões erradas tomadas por uma só pessoa. Assim, não é bem a corporação a vilã da história, e sim um de seus empregados. No caso, uma mulher (a Tilda Swinton, que fez a bruxa em “As Crônicas de Nárnia”). É incrível que ela seja a única pessoa a usar saia na empresa, inclusive a única no filme, e seja a vilã. Pruma produção que se considera liberal, não é exatamente uma mensagem positiva insinuar que ter uma mulher na diretoria seja uma péssima idéia.

E tem mais: que negócio de crise de consciência em advogados é essa? O sujeito com nome de margarina é advogado do tipo faz-tudo há vinte anos, e só agora começa a questionar a profissão? O mais marcante de “Becoming Jane” é quando um juiz diz pra um aluno de Direito qual será sua função ao tirar o diploma: assegurar que a propriedade privada dos ricos não caia nas mãos do populacho. Crise de consciência em advogado? Só em filmes hollywoodianos como “Justiça para Todos” e “Ausência de Malícia” (que adoro, mas não são lá muito realistas). Margarina vem se juntar à coleção.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

SAG, ANTE-SALA DO OSCAR

Ontem à noite vi pela televisão a cerimônia dos Screen Actors Guild (SAG), cheia de astros e de discursos de agradecimento, bem diferente da triste coletiva de imprensa que foi o Globo de Ouro. Pelo jeito o Oscar vai correr sem problemas, a julgar pela festa de ontem. Acho meio chato que a greve dos roteiristas afete algumas premiações e não outras. Nunca pensei que ficaria com pena dos correspondentes estrangeiros em Hollywood, aqueles babões que promovem o Globo, mas agora fiquei.

A única grande surpresa da premiação do SAG foi a Ruby Dee levar melhor atriz coadjuvante. A disputa acirrada estava entre a Amy Ryan (por “Medo da Verdade”) e Cate Blanchett (por “Não Estou Lá”). As duas dividiram quase todos os prêmios da crítica. O SAG deve ter premiado a Ruby por ela ser a única atriz negra do ano em todas as categorias interpretativas (homens e mulheres), e pelo conjunto da obra. Agora o negócio vai ficar ainda mais embolado pro Oscar. Mas, com todo o respeito a Ruby, o papel dela em “Gângster” é um zero à esquerda. Como mãe do Denzel Washington no filme, ela aparece pouquíssimo tempo e só tem um momentinho que fica na memória, que é quando esbofeteia o filho. Esse é um dos maiores problemas de “Gângster”, inclusive. Há uma infinidade de papéis coadjuvantes e não sabe o que fazer com eles. A exceção é o Josh Brolin.

Aliás, o Josh sem bigode é lindo. O Javier Bardem sem aquele cabelão horrendo é lindo. Até gostei do discurso de agradecimento do Josh, que aceitou a estatueta pelo “ensemble acting” (atuação em conjunto?) por “Onde os Fracos Não Têm Vez”. Ele lamentou que o Javier esteja ganhando todos os prêmios, mandou o Woody Harrelson ficar quieto, e disse que fizeram um ótimo filme, “quer vocês gostem do final ou não”. Eu levei pelo lado pessoal (leia minha crônica na sexta).

Gostei também do discurso da Tina Fey, que venceu por melhor atriz de comédia na TV por “30 Rock” e disse que sua atuação com o Alec Baldwin é como o Fred Astaire dançando com um cabide (desculpe, não sei traduzir. Ela disse hatpost, sabe, aquele cabide em pé pra pendurar chapéu? Tipo poste? Não tenho a menor idéia do nome pra isso). Depois de um tempo nos braços do Fred Astaire, o cabide até que parece saber dançar. “Vocês acabaram de premiar o cabide”, disse Tina aos seus colegas. Logo depois, o Fred Astaire, digo, Alec Baldwin, levou uma estatueta também. Pela cara, o Steve Carell não aprovou.

E a Julie Christie levou melhor atriz. Não pense que por isso ela é uma escolha certeira pro Oscar. Vai ser dura a luta com a Ellen Page (“Juno”) e Marion Cottilard (“La Vie en Rose”). Todos os prêmios de 2007 ficaram entre as três. Acho que a Julie tem um certo favoritismo, mas não será fácil. Torço por ela. Você viu como ela continua maravilhosa? Tem 66 anos! Quisera eu chegar assim aos 66. Quer dizer, eu me contentaria em chegar assim aos 41 (em junho).

Daniel-Day Lewis ganhou melhor ator. Chega ao Oscar como favorito. Continuo torcendo pelo Viggo Mortensen, que a cada dia tem menos chances. Mas, na real, existe uma só barbada este ano: o Javier Bardem pra coadjuvante (e acho que até ele deve ter medo do Hal Holbrook).

E o pior discurso da festa do SAG? Fácil: o Burt Reynolds clamando que o Charles Durning é o melhor ator da atualidade. Gosto do Charles, que foi um coadjuvante à altura em “Tootsie” e “Um Dia de Cão”, mas ele sempre foi um tanto limitado. Ok, nunca tanto como o Burt Reynolds. Mas a gente pode comemorar que o Burt não seja crítico de cinema.

CRÔNICAS DE DOIS FILMES OSCARIZÁVEIS

Estou colocando agora, no final da página, minhas crônicas sobre “Sicko”, mais um ótimo documentário do Michael Moore, que estreou no Brasil na sexta sob o título de “S.O.S. Saúde”, e “O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford”. Ambos estão na minha lista dos melhores filmes de 2007 e concorrem ao Oscar em alguma categoria, por isso a relevância. Eu quase fico tentada a torcer pelo Casey Affleck na categoria de ator coadjuvante, mas ninguém é páreo pro Javier Bardem...

sábado, 26 de janeiro de 2008

WAL-MART VAI MAL

Já falei que adoro documentário? Sempre acho que aprendo alguma coisa, mesmo que os temas que procuro sejam um tanto limitados. Por exemplo, não tô com muita vontade de ver um dos vários documentários sobre a guerra no Iraque. Nem o favorito ao Oscar, “Out of Sight”. Eu já sou radicalmente contra a guerra sem precisar saber mais estatísticas revoltantes.

Mas é ótimo quando a gente vê um doc que reforça a nossa posição. E põe “reforça” nisso. Eu já tinha ouvido por cima das práticas abusivas de inúmeras corporações, e conheço alguns americanos que se recusam a entrar num Wal-Mart. Agora entendo totalmente o porquê. Ontem assisti ao DVD “Wal-Mart: The High Cost of Low Price” (algo como “O Alto Custo do Preço Baixo”), e é de morrer de raiva. Que a Wal-Mart, a maior empresa americana, explora trabalhadores do Terceiro Mundo, isso é lugar-comum (muitas outras fazem isso, como a Nike. Aliás, recomendo outro doc, “The Big One”, do sempre excelente Michael Moore, em que ele tenta convencer o presidente da Nike a abrir uma fábrica na cidade falida de Flint, Michigan, pertinho aqui de Detroit. Depois de grande insistência, consegue apenas que o presidente doe 10 mil dólares pra uma escola de Flint. Outro doc altamente instrutivo é “A Corporação”, que compara o comportamento de uma corporação – que só visa lucro – com o de um serial killer). A Wal-Mart recebe subsídios da China, Índia e Honduras, entre outros países pobres, para instalar lá suas fábricas. Os empregados trabalham em sistema de escravidão, 14 horas por dia pra receber 3 dólares diários, com capatazes que os intimidam pra produzir ainda mais e mais rápido. Como quem trabalha 14 horas diárias não tem tempo pra mais nada, a Wal-Mart consegue que o governo chinês lhe dê prédios, que a empresa aluga pros funcionários, e que são instantaneamente transformados em favelas verticais. Se o funcionário decide não ficar no prédio, ele tem que pagar aluguel de qualquer jeito. Vem descontado da folha de pagamento, sabe?

É por essas e outras que eu me horrorizo quando vejo estados brasileiros promovendo guerrinhas de incentivo fiscal pra alguma fábrica automobilística se instalar numa determinada cidade...

O doc do Robert Greenwald dá uma boa noção da contribuição que isso traz pro lugar. A Wal-Mart recebe do governo americano mais de um bilhão de dólares em subsídios todo ano. E cada cidade literalmente paga para que a Wal-Mart se instale lá. O município oferece o terreno e isenção fiscal por muitos anos. Esse dinheiro que não entra pra cidade em forma de impostos sai de algum fundo educacional. No caso da Wal-Mart, os efeitos são ainda piores porque, por causa da concorrência desleal (como competir com produtos made in China?), a economia da cidade desaba em poucos meses. Várias empresas locais vão à falência – algumas são lojas com mais de 40 anos, passadas de pai pra filho. Um dos gerentes da Wal-Mart diz que, ao chegar numa cidade, ele passa em frente à concorrência, apostando que tal loja vai fechar em seis meses, essa outra não dura nem quatro... E é o que acontece. O local se transforma numa cidade-fantasma.

Num dos casos, a Wal-Mart recebeu incentivos fiscais de uma cidade durante alguns anos. Quando chegou a hora da empresa finalmente começar a pagar impostos, o que ela fez? Mudou-se pra cidade vizinha! Simplesmente abandonou o prédio e se transferiu pra fronteira. Há um bocado de quilômetros quadrados de lojas da Wal-Mart abandonadas às traças nos EUA. Se elas virassem escolas, poderiam abrigar meio milhão de estudantes.

O doc dá bastante destaque às condições dos funcionários da Wal-Mart nos EUA. Aqui eles não são escravos e ganham mais (7 dólares a hora) que seus colegas chineses, mas há quilos de denúncias de machismo e racismo nas relações trabalhistas. Os empregados são desaconselhados a formar sindicatos. Como o gerente de cada loja precisa reduzir os gastos pra aumentar o lucro todo santo mês, ele (nunca é mulher) contrata pouca gente, faz os empregados trabalharem mais, e mexe no sistema do computador pra reduzir as horas extras que cada funcionário é obrigado a cumprir. É sério!

Os benefícios que a Wal-Mart põe à disposição de seus funcionários são irrisórios. Tem um plano de saúde que, além de não cobrir as doenças, ainda é caro demais (os empregados é que têm que pagar, claro). Logo, a empresa incentiva seus funcionários a pedirem assistência médica e qualquer outro benefício ao governo. Ué, mas o sistema capitalista não prega menos interferência do governo? Não, cada caso é um caso. No caso da Wal-Mart, os cofres públicos gastam US$ 1,5 bi por ano só com os empregados da empresa.

Tem mais: há um monte de roubos, estupros e sequestros (alguns resultam em mortes) nos estacionamentos das lojas da Wal-Mart. Isso porque a empresa só coloca seguranças (em geral quatro, pra uma loja imensa) dentro dos hipermercados. Do lado de fora, é cada um por si e salva-se quem puder. A Wal-Mart até tem câmeras de segurança nos estacionamentos, mas ninguém na cabine olhando essas câmeras.

Após o calvário de denúncias, o doc termina de um jeito otimista, com a vitória de cidadãos em várias cidades americanas que conseguiram barrar na justiça a construção de um Wal-Mart local.

Acho que posso contar nos dedos de uma mão quantas vezes na vida comprei num Wal-Mart. Nem sei se em SC tem algum. Mas sei que o Big foi comprado pelo Wal-Mart um tempinho atrás. Vou começar a boicotar lá também.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

OS FILMES BONS JÁ PASSARAM

Sei que quando estiver de volta em Joinville, com suas cinco salas de cinema, vou me arrepender por ter reclamado. Mas a verdade é que aqui nos EUA parece que existem só uns dois meses no ano em que vale a pena enfrentar uma telona, quando chegam os Oscarizáveis (novembro e dezembro). Janeiro é um deserto. Sinta o drama: as estréias de hoje são “How She Move”, “Meet the Spartans”, “Rambo 4” e “Untraceable”. E isso que hoje tem quatro estréias nacionais! Geralmente são apenas duas. “How She Move” eu vi o trailer, e não me atraiu. Parece ser um monte de jovens revoltados dançando, e nem musical é. “Meet the Spartans” é uma paródia de “300”, e só quero saber: o mundo precisa mesmo de um “Todo Mundo em Pânico 5”? “Rambo” (previsão de estréia no Brasil: 22/2) e “Untraceable”(“Sem Vestígios”, que chega aí 28/3) eu vou assistir, na falta de coisa melhor; “Rambo” porque é impressionante como o Stalla continua trabalhando, mesmo tão velhinho, e “Untraceable” porque é meu tributo a Diane Lane (por ela ser casada com o Josh Brolin, imagino). Ou porque já passaram o trailer tantas dezenas de vezes que eu tive a ilusão que seria um filme importante.

SEM VESTÍGIOS / Anotações

Um filme que não tem esperança nenhuma na humanidade.
É verdade que todo mundo pára pra ver um acidente, e que, quando tem alguém ameaçando pular de um prédio, sempre tem um coro de “Pula! Pula!”. E não resta dúvida que a gente é atraída pela violência. Mas, se aparecesse um psicopata desses na vida real e fizesse um site com vítimas que morrerão de acordo com o número de cliques, o site dele teria mais acessos que o meu? Opa, pergunta errada. Acho que teria sim. A pergunta que não quer calar é: as pessoas acessariam, mesmo sabendo que estariam colaborando com a morte de alguém? O pior é que eu acho que sim. Eu não clicaria, assim como não assistiria a um snuff movie. Mas eu desvio o olhar num acidente, não sou fã de “Jogos Mortais”, “Albergue” e “Faces da Morte”, não fico vendo fotos de gente desfigurada na internet. Não posso falar o mesmo de vários adolescentes que conheço.
É só andar pelos sites pra ver como tem menino perturbado por aí. Se há site onde pessoas expõe seus problemas, vai ter sempre comentários cruéis de gente que não tem mais o que fazer. Não acho que o filme viaja muito ao incluir comentários do tipo “Já foi um gatinho e três homens. Que tal umas garotas agora?” ou “Como posso fazer um download dessa imagem?”. Mas 25 milhões de acessos? Isso não sei se acredito. Há tanto americano sem noção?
E aí fico com outra dúvida: será que nessas horas o patriotismo entra na jogada? Por exemplo, se a vítima fosse americana e o acesso ao site estivesse permitido em outros países (não tá no filme, o que não fica explicado), os adolescentes iranianos clicariam mais vezes? Ou se a vítima fosse negra, os grupos nazistas colocariam um link pra página “Kill With Me”? Por sinal, não existem negros no filme. Nem estrangeiros. É pra fugir de controvérsias, suponho.
Diane Lane é linda. Fico feliz que ela ainda consiga papéis, mesmo depois dos 40.
Lembro dela em “Vidas sem Rumo”.
Gosto do Billy Burke. Ele pode não ser o melhor ator do mundo, mas é uma gracinha. Em Banquete de Amor (“Feast of Love”) tava sexy.
O pessoal vive tentando imitar “Silêncio dos Inocentes”, mas o máximo que consegue alcançar é “Colecionador de Ossos”.
Esses filmes aumentam o número de mulheres no FBI? Parece que “Silêncio” fez um monte de menina tentar ser recrutada.
Pelo menos o filme parece deixar bem claro quem são os maiores responsáveis pela violência: os homens. Uma hora o serial killer fala do mal que os homens fazem às mulheres para que outros homens assistam. Ou logo no começo, vão atrás de um ladrão da internet, que pega senhas dos usuários. Descobrem uma mulher que mora sozinha, e meio que imediatamente a descartam.
O maridão ficou muito do nervosinho com o meu papo de “mulher não é serial killer, mulher não estupra, mulher não é pedófila, nas guerras mulher é só vítima. Vocês homens são o câncer do planeta”. Ele levou pelo lado pessoal.
Claro que o filme é tão sensacionalista como um site que fizesse isso. Não é muito diferente de “Jogos Mortais” e outros exemplares do “torture porn” - várias maneiras criativas de inflingir dor. Mas claro que se concentra mais nos mocinhos. Ou, neste caso, na mocinha.
Ficção? Espero que sim, e que ninguém tente imitar. Acho que não dá pra fazer um site que não possa ser tirado do ar. E precisa ter muito equipamento e lugar vazio pra tentar isso.
O diretor Gregory Hoblit já cometeu atrocidades piores contra a humanidade.
Não achei ruim. Nem bom. Já vi piores.
O carinha que faz o colega dela no FBI é filho do Tom Hanks!
Matar gatinhos pra mim deveria ser crime inafiançável.
É como o personagem do Billy dizer que não gosta de cinema, mas ele tá aí num filme. Mesmo tipo de hipocrisia. E aquilo é merchandising do FBI? Quando os caras quase prendem um cara por copiar filmes, e o Billy olha o aviso do FBI e diz “Você não pode negar que foi avisado”.

CRÍTICA: GÂNGSTER / O segundo melhor filme de gângster de 2007

Desta vez eu concordo com a quase unanimidade dos críticos. O consenso é que “O Gângster” é legal, bom de ver, com atores magníficos e tal, mas não é um grande filme nem que a vaca tussa. Ele conta a história “baseada em fatos reais”, e põe aspas nisso, de um mafioso negro que, na década de 70, consegue vender heroína baratinha nas ruas de Nova York, agitando a concorrência e chamando a atenção de quem devia ser o único policial honesto da cidade. E, se tudo isso já não fosse suficientemente atraente, quem faz o gângster é o lindo e maravilhoso Denzel Washington, e o tira, o Russell Crowe, sob a direção do Ridley Scott, que deve ser o único que adora trabalhar com o Russell (“Gladiador”, “Um Bom Ano”).

Tudo que eu (e a maior parte do mundo) sei sobre gângsters eu aprendi no cinema. Ou seja, depois de tanto tempo, pensava que soubesse tudo sobre máfia, mas “Gângster” é diferente. Primeiro que o manda-chuva da vez é negro, e isso é novidade. Nos “Poderosos Chefões” da vida há várias menções sobre como as ruas são tomadas por traficantes negros (e cada “famiglia” é preconceituosa). Mas o que eu realmente não sabia é que o exército americano ajudou a popularizar a heroína nos EUA. Foi no final dos anos 60 que o consumo de drogas pesadas explodiu. Pra mim foi uma surpresa descobrir não apenas que um terço dos soldados ianques usava heroína, mas que aviões militares eram usados pra transportar a droga do Vietnã a NY.

Com a corrupção no exército e na polícia, o traficante fica menos mal na foto. Mas é o fim que a polícia seja tão desonesta. O personagem mais detestável do filme, sem sombra de dúvida, não é o detetive adúltero, o gângster durão, ou o carinha que atira numa moça pelas costas – não, isso tudo é fichinha perto do detetive-bandidão feito pelo Josh Brolin (que ano pro Josh! Ele tá perfeito em “Onde os Fracos Não Têm Vez”, mostra sua versatilidade no “Planet Terror”, a parte ruinzinha de “Grindhouse”, é a melhor coisa de “Gângster”, e de quebra é casado com a Diane Lane). Ladrão que rouba ladrão não tem cem anos de perdão. Ainda mais se o cara atira em cachorros e esbofeteia mulheres.

O protagonista de “Gângster” deveria ser o personagem-título, mas o detetive do Russell tem tanto espaço quanto ele. Isso pode ser um erro. Poucos iriam ao cinema pra ver um tira honesto. Mas, do jeito que o roteiro tá escrito, como o gângster é um enigma, ficar com o detetive talvez não seja tão ruim. E quer saber? É provável que não seja só por causa do roteiro que os personagens tenham igual importância. Pode ser pelo ego dos atores também. Ou será que o Russell, a essa altura da carreira, e com a fama de insuportável que tem, aceitaria ser coadjuvante do Denzel? Sem falar que o mafioso talvez seja menos monstruoso por ser interpretado pelo Denzel, que leva a sério sua reputação de bom moço. Compare o gângster dele com o detetive que fez em “Um Dia de Treinamento”, que lhe deu o Oscar. Em “Dia” ele era vilão. Aqui seu chefão é um homem de família, religioso e na sua, menos quando liquida um rival. O filme dá a entender que ele continuaria assim, discreto e oculto, sem que a polícia o notasse, se sua linda esposa porto-riquenha não tivesse lhe dado um casaco de pele que deve ter custado a vida de centenas de pobres chinchilas. É só o cara se vestir como um rapper pra toda a polícia cair em cima dele. É o que eu sempre digo: não use casaco de pele.

Acho, não tenho certeza, que o Cuba Gooding Jr. tá em “Gângster”, mas não dá pra entender direito o que ele representa. Todos os personagens coadjuvantes, tirando o do Josh, estão genéricos e desperdiçados. Num longa de duas horas e quarenta minutos, não dá pra alegar falta de tempo. E o que dizer dos personagens femininos? Todos mal-desenvolvidos. Por exemplo, a mulher do Denzel é boazinha demais. Não queria que ela fosse uma Michelle Pfeiffer em “Scarface”, mas nem um pouquinho mais de personalidade? Tipo, por que ela se casa com o gângster? Não fica claro se é pelo dinheiro. Tudo bem, eu também me casaria com o Denzel num piscar de olhos, mesmo que ele traficasse heroína. Aliás, na terceira cena de pessoas se injetando, com todos os detalhes de sangue saindo pelo braço, eu já queria deixar a sessão. Pra quê tanto? Eu entendi o que os viciados fazem. Até compreendo que o Ridley volta e meia coloque gente morrendo de overdose pra mostrar os efeitos do que o Denzel vende, mas chega de injeção na veia, please.

Outros pontinhos que não tenho a menor idéia onde incluir: uma hora tem uma montagem com uma canção que já foi usada em “Jackie Brown”, e isso distrái. Tá, sei que é complicado não poder botar todas as canções bacanas só porque o Taranta já as usou, mas deve haver outras, não? E talvez “Gângster” fosse superior se ilustrasse um confronto como “Fogo Contra Fogo” (no qual os dois astros, Al Pacino e Robert De Niro, só se encontram no final), mas é difícil, porque os dois protagonistas desconhecem a existência alheia até perto do fim. Quanto à veracidade da história, desconfio que o filme infle a importância do mafioso que o Denzel interpreta. Isso é feito eliminando a concorrência. Não eliminando no sentido “Chefão”, mas no sentido de deixar longe da tela.

Isso tudo só pra chegar à conclusão de que o título de melhor filme de gângster de 2007, sinto muito, pertence a “Senhores do Crime”. E não só o de melhor filme de gângster. Melhor filme, ponto.

P.S.: “Blade Runner, O Caçador de Andróides” foi relançado nos cinemas dos EUA no final do ano passado no que dizem ser a versão definitiva. Às vezes, com tanta coisa ruim que o Ridley Scott fez (“Hannibal”, “Até o Limite da Honra”, “Falcão Negro em Perigo”), é difícil se lembrar que ele é o autor de um dos grandes filmes dos anos 80, sempre na lista dos top cinco. Eu trabalhei numa locadora quando era jovem e a maior parte do acervo era pirata. Não passava um dia sem que algum cliente entrasse e perguntasse: “Tem Blade Runner?”. Agora acabou de ser lançado nos EUA um estojo de DVDs com cinco versões do filme. Sim, eu disse cinco. Ganha um doce quem descobrir a diferença entre a versão do diretor (de 1992) e essa última, a versão final. Deve ser brincadeira – um jogo dos sete erros, talvez.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

COSTUMA FALHAR

O ruim de escrever sobre religião, geralmente contra, é que o assunto pode espantar leitores. Não que eu tenha muitos no momento. Sei que às vezes pareço dura com a direita cristã, mas ela gosta de divulgar asneiras assim, como esse folheto exigindo o boicote ao funeral do Heath Ledger. Essa é a igreja mais radical, a God Hates Fags (algo como Deus Odeia Bichas, bem ofensivo mesmo), que pensa que tudo que acontece de ruim no mundo vem como punição divina contra essa “pouca-vergonha” que está aí, e defende pena de morte para gays. Agora a ira é contra o Heath porque ele interpretou um homossexual, e Deus, aparentemente, além de odiar homossexuais, também odeia atores que interpretam homossexuais. O pior é que essa igreja não está sozinha na sua pregação do ódio. Eu defendo a liberdade de expressão, e acho que até essa gente fanática com sérios e evidentes problemas mentais deve ter o direito de expressar sua opinião (e de boicotar o funeral do Heath – como se ela tivesse sido convidada!). E eu também defendo a liberdade de me expressar contra eles. Não tenho grandes entraves contra religiões que pregam paz e amor. Mas a direita cristã quer a destruição do mundo, sob a graça de Deus. E eu gosto do meu mundinho.

ANDAR COM FÉ EU VOU

O maridão ralhou comigo quando avisei que iriam chegar algumas publicações religiosas pra mim. “Ahh! Por que eu não posso comprar livros de xadrez baratinhos, e você pode assinar essas coisas?!”, disse ele, revoltado. Expliquei que eu leio tudo, até bula de remédio, que essas publicações são grátis, e que eu não pretendo levá-las pra Joinville, quando a gente voltar em agosto. Inclusive, tem uma ou outra igreja que manda a assinatura pro Brasil, então vou continuar com ela. Não é que estou planejando uma conversão ou um exorcismo da minha pobre alma perdida. É que tenho que me manter informada sobre o que a direita cristã americana anda pregando. Tá certo que o discurso deles não muda muito, mas nem por isso as matérias deixam de ser divertidas. Por exemplo, numa das revistas eles se revoltam com um projeto de lei que proíbe discriminação no trabalho contra transsexuais. Pra direita-cristã, não discriminar equivale a aceitar um estilo de vida hediondo. Querem que o preconceito corra solto mesmo! O mais engraçado é que eles tentam manter um tom objetivo no artigo, até não aguentarem mais e meterem um “pervertido” pra descrever um homem que muda de sexo.
Na foto, você vê algumas das publicações que já chegaram aqui. Encomendei um ou outro livro sobre sexo porque as religiões (acho que praticamente todas) lidam muito mal com o assunto. Mas a direita cristã diz que não há absolutamente nada de errado em fazer sexo – desde que seja dentro do casamento, para fins reprodutivos, e apenas entre um homem e uma mulher. Igualzinho ao que o Vaticano prega há séculos! Porém, algumas dessas igrejas evangélicas odeiam o Papa (qualquer um). Pra cumprir a profecia que está na Bíblia, segundo essas igrejas que crêem que o apocalipse tá virando a esquina, o Vaticano tem que querer retomar a força que tinha na Idade Média, o que trará desestabilidade mundial e uma terceira grande guerra, dessa vez em Jerusalém. Depois vêm o Julgamento Final e a paz eterna. O chato é que não possam fixar uma data exata. Todas as vezes que fizeram isso e o tão esperado apocalipse não veio, elas perderam fiéis.
Uma vez, em Joinville, uma adventista do Sétimo Dia bateu a minha porta pra me converter, porque o fim do mundo estaria próximo e eu podia ser salva. Perguntei se havia um prazo de carência pra cumprir, ou se eu poderia me converter um dia antes do fim. Ela ficou confusa mas eventualmente respondeu que tudo bem, não há carência, desde que a conversão seja sincera. Pedi pra que ela voltasse na véspera.

MAKING OF DO BLOG, VERSÃO AZUL

Não sei se devo alguma explicação ao Ricardinho, esse menino que já comeu tanta batata assada (recheada!) lá em casa, mas que toda vez que passa por Joinville eu só consigo vê-lo se eu sem querer esbarrar nele na rodoviária. Enfim, sei que o layout original do primeiro dia tava preto. Eu notei. Não gostei muito, a visualisação não fica grande coisa, acho que dificulta a leitura, mas era a primeira vez que eu e o maridão mexíamos num blog, então foi o que surgiu. Só que aí, buscando no google pra ver se meu blog já aparece no horizonte internético (aparece!), parei num blog de uma menina de 18 anos chamada Lola. Acho que o nome era “O Fabuloso Destino de Lola”. E um dos posts se chamava “Escreva Lola Escreva”. E o layout era preto, igualzinho ao meu. Aí eu já achei demais, e pensei, vai que um leitor incauto me confunde com a Fabulosa Lola de 18 aninhos e... Opa, até que não seria tão mau. Mas com a ajuda do maridão, encontramos uma cor mais legal. Quequié, Ricardinho, não gosta de azul (droga! Não conheço nenhum tipo de azul fora azul. Azul turquesa? Azul lilás? Azul anis? Azul com letrinhas rosas que ficam meio ilegíveis no fundo azul?)? Digamos assim, não gostou do meu azulão? Vai encarar? Laranja passou pela minha cabecinha, admito. Gosto de todas as cores. Tenho um cachecol arco-íris.
Aproveitando que qualquer um na face da Terra é mais expert em blog que eu e o maridão, e que conto com pessoas realmente inteligentes entre os meus quatro leitores, alguém aí pode me responder algumas perguntinhas básicas? Tipo: como ponho legenda embaixo de uma foto? Quero colocar todas as minhas críticas/crônicas de cinema num arquivo, em ordem alfabética. Mas não quero que elas apareçam como novos posts. Como faço isso? A medida em que forem pintando novas dúvidas, vou compartilhá-las com vocês. Enquanto isso, o Ricardinho que não gosta do meu azul-azul pode plantar batatas. E depois levá-las lá pra Joinville que eu asso pra ele.

NOTÍCIAS DO IMPÉRIO EM POLVOROSA

As eleições americanas estão pegando fogo. Elas só vão ocorrer em novembro, mas até maio, por aí, o pessoal tem que decidir quem serão os candidatos. E é nisso que a competição está feroz, numa das decisões mais disputadas e imprevisíveis de todos os tempos do maior império da História.

O sistema de votação deles é bem complicado. Primeiro há as primárias em cada um dos 50 estados, em que eleitores dos dois partidos escolhem seus candidatos. Não é que só existam dois partidos aqui, republicano e democrata, mas no fundo é como se fosse (o único independente que teve alguma representativade foi o Ralph Nader, mais à esquerda que os partidões. Ele foi culpado pela derrota do Al Gore duas eleições atrás, por ter tirado votos dos democratas. Agora são os republicanos que temem isso. A direita cristã, que não é pouca coisa – 25% da população – não considera nenhum dos candidatos republicanos realmente de direita, e ameaça lançar um presidenciável próprio). Os candidatos dos demais partidos são que nem o nosso Enéas, sem a menor chance de ganhar, com a diferença que ninguém vota neles por gozação.

Nas eleições em si, o voto não é obrigatório. Como a votação é sempre num dia de semana (e não vira feriado nem nada), dá pra concluir que os pobres, que precisam labutar, não têm como faltar ao trabalho. Sem falar que as filas de votação nos locais pobres são muito maiores que nos distritos ricos. Então, quem vota? Menos de 50% da população adulta. Entre essa minoria, há poucos eleitores pobres. E, por incrível que pareça, o presidente eleito não é quem recebe o maior número de votos. Em 2000, apesar do Al Gore ter vencido no voto popular, foi o Bush quem levou. Isso porque eles utilizam um sistema esquisitão em que vence quem chegar a 270 votos, com cada Estado valendo um certo número (Califórnia, Texas, Nova York e Flórida valem mais. Califórnia, por exemplo, entra com 55 desses 270 votos).

O que tá acontecendo agora são as primárias. Já houve quatro – cinco, se contar Wyoming, o estado com o menor eleitorado (mas eles não contam. Imagine como Wyoming se sente). Embora Iowa e New Hampshire sejam estados pouco representativos, ganham enorme importância por serem os primeirões a realizar primárias. E a gente sabe como são os americanos. Pra eles, competir e ser o melhor em tudo é a essência da vida. Portanto, quem sai na frente costuma levar vantagem. Na primária de Iowa, entre os democratas ganhou o Barack Obama (negro, jovem e simpático, mas com o pior timing do mundo pra ter um nome desses). Entre os republicanos foi o Mike Huckabee, um ex-pastor batista que não acredita em evolução. Na primária de New Hampshire, os vencedores foram diferentes: a democrata Hillary Clinton (que, se conseguir superar o Obama, será a primeira candidata mulher à presidência. Inclusive, o Obama seria o primeiro negro) e o republicano John McCain. Esse McCain é tido como herói da guerra do Vietnã (aquela que os americanos – ahn, deixa pra lá). Durante a guerra, ele foi capturado pelos malditos vietcongues e torturado durante cinco anos. Sobreviveu, mas tá velhinho. Já tem 71 anos. Se for eleito, será o presidente mais idoso de todos os tempos. Até mais que o Reagan! Lembro até hoje de uma amiga americana que se preocupava com a idade do Reagan. Ela se desesperava: “E se ele tropeçar e apertar o botão que começa uma guerra nuclear?”.

Com a graça divina, um republicano não conseguirá mais um mandato (meu orientador diz que um serial killer é preferível a um republicano). Mas mesmo entre eles há outros candidatos com chances de vencerem as primárias, como o Mitt Romney, bonitão e mórmon (seria o primeiro presidente mórmon. Quem você prefere: a primeira presidenta, o primeiro negro, ou o primeiro mórmon?), e o Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York (que, suponho, seria o primeiro presidente a estar no terceiro casamento). Entre os democratas, vai ser Clinton ou Obama mesmo. Por curiosidade, indaguei a uma amiga: “Por que o Al Gore não é candidato novamente?”. Ela respondeu que é porque ele já teve sua oportunidade, e perdeu. A segunda chance é um mito. O Gore recebeu o Oscar e o Nobel da Paz, mas a marca de “fracassado” ficou no seu currículo. Se o Lula fosse americano, jamais poderia concorrer quatro vezes. Mas enfim, a data fundamental é 5 de fevereiro, quando ocorre a Super Terça, em que mais da metade dos estados realiza suas primárias. Cada resultado é um carnaval de análises. E são 50 estados... Tanta informação pra, no final, cem milhões de americanos elegerem o novo chefe do universo.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

KATHLEEN TURNER À SOLTA

Gente, isso é muito legal! A Kathleen Turner, uma das maiores estrelas dos anos 80, está publicando uma autobiografia em que conta tudo: fala do comportamento juvenil do Nicolas Cage em “Peggy Sue – Seu Passado a Espera”, de suas cenas picantes com o William Hurt em “Corpos Ardentes”, do amor e ódio pelo Michael Douglas, do vício do Anthony Perkins durante as filmagens de “Crimes de Paixão”, do pesadelo que foi trabalhar com o Burt Reynolds em “Troca de Maridos”, da doença grave que ela superou, e de como não faz sexo faz dois anos. Não tá muito bem escrito nem nada, mas é sempre interessante ouvir um ator dizer o que quer, sem que seus comentários sejam filtrados pelos estúdios. Um jornal inglês tá publicando uns pedaços do livro. Você pode ler aqui.

TRISTES COMPARAÇÕES

Fico chateada com a morte do Heath Ledger. Mas, ao mesmo tempo, é estranho que a gente se comova com a morte de pessoas que não conhece. É verdade que a gente o conhecia do cinema, dos filmes que fez, mas como seria a nossa reação se ele, ao invés de morrer (ao que tudo indica, acidentalmente, por alguma mistura de medicamentos), se aposentasse? E se ele decidisse que não iria mais atuar? Também acharíamos um desperdício, claro, mas a comoção não seria internacional.
Ontem acompanhei a cobertura da TV americana sobre a morte do Heath. Não se falava noutra coisa. Houve comparações com o James Dean. Sabe-se lá se o Heath virá a se tornar um ícone como aconteceu com o James, mas ambos fizeram poucos filmes importantes antes de morrerem. O Heath ganhou destaque por “Brokeback Mountain”, que lhe rendeu mais que uma indicação ao Oscar – provavelmente ele teria vencido em 2006 se aquele não fosse o ano do Philip Seymour Hoffman (“Capote”). Aposto como o Heath ficou em segundo lugar entre os cinco. Foi a consagração. E logo logo ele iria estourar como o Coringa do novo “Batman”. Não vi “Casanova” ou “Os Irmãos Grimm”, que ele protagonizou. Mas seus papéis em “O Patriota”, “A Última Ceia” e mesmo “Não Estou Lá” foram pequenos. Faltava muito pra ele se tornar um monstro sagrado do cinema. Assim como faltava pro James, e mesmo assim... Agora, se o James tivesse morrido mais velho, não na flor da idade, alguém falaria nele hoje em dia? Falaria, mas seria papo de cinéfilo. Pouca gente se lembra do Montgomery Clift, por exemplo, e ele fez muito mais filmes que o James e teve uma vida igualmente trágica. Só que um tiquinho mais longa (tinha 44 anos quando morreu).
Nem me lembro o que eu estava fazendo quando fiquei sabendo da morte do River Phoenix, em 1993 (por falar nisso, o Brad Renfro, o menininho de “O Cliente”, bateu as botas semana passada, aos 25 anos, e eu só descobri ontem, porque alguém mencionou algum tipo de epidemia que estaria matando os jovens talentos). Não sei se dá pra comparar a carreira do River com a do Heath. Só me parece que o River manteve o título de “melhor ator de sua geração” por mais tempo que o Heath...

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

VÁRIAS INDICAÇÕES E UMA MORTE

Saíram as indicações pro Oscar, aquela cerimônia que no fundo ninguém sabe como (se?) vai acontecer, devido à greve dos roteiristas. Será uma festa de tapinhas nas costas como a do Globo de Ouro? Ou vai haver astro discursando? Nenhuma surpresa enorme nas indicações. É chato que um filminho tão meia-boca como “Juno” e outro melhorzinho, pero no mucho, como “Conduta de Risco”, tenham sido lembrados em tantas categorias, enquanto filmaços como “Sweeney Todd” e “Senhores do Crime” apareçam discretamente. Gostei das nomeações de “Onde os Fracos Não Têm Vez”, “Sangue Negro” e “Desejo e Reparação”. Não gostei que o brasileiro “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” tenha ficado de fora da disputa pra melhor filme estrangeiro (por pouco. Chegou no meio de nove pré-selecionados).

O pessoal especializado considerou surpreendente a inclusão do Tommy Lee Jones na corrida pra melhor ator (por “No Vale das Sombras”). Ele não entrava em nenhuma previsão. Mas é só ler as críticas pra ver que é dele a performance mais elogiada de 2007 (eu não concordo muito. Acho que ele só está interpretando a si mesmo). Nessa categoria, torço pelo Viggo Mortensen desde criancinha.

E todo mundo chiando: como que um desastre como “Norbit” (recordista em indicações aos Razzies, as Framboesas de Ouro, dadas aos piores do ano) entra pra melhor de qualquer categoria? Não é a primeira vez, nem será a última, que as indicações do Oscar batam com as da Framboesas. Eu me lembro de “Con Air”, só pra dar um exemplinho.

Mas todas essas análises supérfluas ficam um tanto eclipsadas com a morte do Heath Ledger, né?


PEDAÇO DO PENÚLTIMO DIA DO ANO EM DETROIT

Último domingo. Decidi sair um pouco porque o maridão, além de mal-humorado, monopolizava o computador. E o tempo estava bom, só um ou dois abaixo de zero. Não pense que gosto de morar num lugar onde a gente se acostuma a achar que zero grau sem neve é tempo bom. Mas o fato de não ter neve ou gelo ajuda. Só havia uns resquícios da última neve, quase nada. Do boneco que o zelador moldou na frente do nosso prédio sobraram apenas os restos mortais, uma nevinha na base. Então lá fui eu, vestida com meus habituais trajes de Abominável Boneco das Neves – gorrinho, luvas, duas calças, casacão imenso comprado por oito dólares no Exército da Salvação, cachecol colorido pro look ficar menos sombrio. O cachecol arco-íris funciona; todo mundo olha pra mim como se eu fosse uma atração turística ou parte de algum desfile de Parada Gay. Mais de uma pessoa no supermercado já falou: “Adoro seu cachecol”. Eu nunca digo que comprei usado por US$1,50. Ah sim, e toda santa vez que o zelador me vê ele comenta como estou bem agasalhada, já que minhas orelhas estão cobertas. Ele diz isso sem gozação, mas outros me fitam como se eu fosse um modelo do exagero ambulante. Eu não me importo nem um pouco. Prefiro passar vergonha do que frio.

Neste meu passeio dominical, aproveitei pra levar garrafas e potes de plástico pra reciclar (acredite, nos pontos de coleta não há lugar pra vidro. E sempre levo pro meu escritório na universidade um monte de papelão e jornal velho. As duas caixas estão transbordando, e não são recolhidas. Sinceramente, acho que ninguém recicla nada por aqui. E não é algo de Detroit. Tive a mesma impressão em Chicago e Washington. O país que mais gera lixo no mundo não parece interessado em reciclá-lo). Levei também um DVD pra colocar numa caixa do correio (não se preocupe, vou escrever uma coluna inteira sobre isso). Peguei a edição mais recente de um tablóide grátis. Saí à cata de esquilinhos perdidos, sem muito sucesso. Voltei pra casa e narrei minha aventura pro maridão, após conseguir arrancá-lo da frente do computador.

- Não tinha uma alma na rua. Nem alma de esquilinho. Não sei por que gastam tanto nos filmes pra esvaziar algumas ruas. Sabe que em “Eu Sou a Lenda” uma só cena de Nova York vazia custou 5 milhões de dólares? Podiam ter filmado tudo aqui, e consertar com efeitos digitais.

- Mas ninguém quer ver Detroit vazia. Querem ver NY vazia.

- Bom, praticamente a única alma que encontrei foi um gato branco. Ele olhou pra mim, eu olhei pra ele. Pensei em jogar um amendoim pra ele. Pensei em tocar nele, mas fiquei com receio que ele me seguisse pra casa. Mesmo assim, antes que eu me decidisse, ele fugiu.

- Como aquela cena em “Eu Sou a Lenda” entre o Will Smith e um morto-vivo.

- Amor, espero que nessa sua comparação eu seja o Will Smith. Ah, sabe o que mais eu vi? A loja nova na esquina que vende bebida colocou um cartaz imenso na calçada: “Open. Liquor”. Dá pra ver o cartaz daqui da janela. Mas tem uma palavra embaixo que só deu pra ler lá perto: “Groceries”.

- E o que é “groceries”?

- De novo?! Não vou traduzir pra você pela terceira vez! Você sempre pergunta isso!

- “Groceries” tem a ver com as atitudes estúpidas da Lolinha?

Aí eu tive que rir durante cinco minutos ininterruptos. Nesse meio-tempo o maridão não deu trégua: “Tem uma segunda definição pra palavra, fora o comportamento lolístico? Por exemplo, quando a Lolinha não tá por perto, o que significa 'groceries'? É como o pessoal da loja trata os fregueses?”. Quando finalmente parei de rir, expliquei que só um completo analfabeto em inglês pode confundir “groceries” com “grosserias” e que “grocery” quer dizer produtos comestíveis à venda, tipo secos e molhados. Continuei minha saga:

- Só na volta vi um esquilinho. Ele estava em duas patas, tentando morder uma luzinha de Natal numa árvore. Eu chamei, e ele não veio, lógico, mas pelo menos virou na minha direção.

- E aí você acertou um amendoim na cabeça dele, pra variar?

- Não, anjo. O primeiro amendoim pousou na frente dele, mas ele não viu. O segundo ele pegou. Ele comeu de costas pra mim. Tão grocery, esse esquilo. E depois eu quase fui atropelada pelo único carro na cidade.

- A única pedestre da cidade atropelada pelo único carro? Minhas saídas não são tão emocionantes como as suas.

Enfim, apesar do atraso, faço minhas as palavras do maridão e desejo a todos um ótimo reveillon, e um 2008 sem groceries.

CRÍTICA: EU SOU A LENDA / A lenda de um gênero que ficou no passado

Na entrada de “Eu Sou a Lenda”, o maridão disse que o fato de eu ir ao cinema gripada é como se a vida imitasse a arte, porque eu iria contaminar todo mundo. Segundo ele, “É mais ou menos como o filme, com a diferença que agora o pessoal sabe como a epidemia de zumbis começou”. Eu falei pra ele me deixar em paz ou não lhe daria bola nem que ele fosse o último homem da Terra, tipo o Will Smith. Essa nova versão de “Lenda” já começa com uma explicação: a Emma Thompson descobre a cura pro câncer. Três anos depois, os curados do câncer viraram zumbis, espalharam o vírus, e acabaram com o planeta. Restou o Will, e muitos mortos-vivos que só se aventuram à noite.

Esta é a terceira versão do livro de 1954 do Richard Matheson (o mesmo que escreveu os contos que viraram “Encurralado” do Spielberg e vários episódios de “Além da Imaginação”, como aquele do monstrinho na asa do avião, além de “O Incrível Homem que Encolheu”). Eu gosto do livro, mas ele tá cheio de defeitos. Parece que todos os vampiros da cidade não têm mais nada pra fazer fora se reunir na frente da casa do protagonista. Apenas um fala, e mesmo esse só grita o nome do herói. E é ridículo que, com o mundo em frangalhos, nosso carinha só pense em sexo. Ele vê mortas-vivas e pensa, “Hmm... Que saudades!”. Mas toda a sequência em que ele conhece um cão é emocionante. E, lógico, qualquer parte do livro é muito superior à adaptação de 1971, que levou o título de “A Última Esperança da Terra” (“The Omega Man”), em que o Charlton Heston faz um cientista que passa a maior parte do tempo sem camisa. Os vilões são mais vampiros hippies e albinos que zumbis. A única coisa minimamente instigante é o Charlton dirigindo por uma Los Angeles abandonada, e o romance interracial entre ele e uma negra com penteado afro. Acho que desde os anos 90 o pessoal decidiu refilmar “Lenda”. Redigiram montes de roteiros (eu li um feito pro Schwarzenegger, já pensou?), escalaram astros, mas as negociações não avançaram. Sobrou pro Will, que, em termos de bilheteria, deve ser o maior astro de cinema do mundo depois do Tom Cruise (até uma atrocidade como “Hitch – Conselheiro Amoroso” fez dinheiro).

Sou fã do Will desde “Homens de Preto”. Se “Lenda” é um sucesso, financeiramente falando, é por causa do seu carisma. Mas não suporto as entrevistas pra imprensa. Alguém pergunta: “Como foi trabalhar com sua filha?” (durante uns dois minutos). E ele diz que foi maravilhoso, que ela tem um talento natural. Mesmo que não fosse verdade, o que ele diria? “Ah, foi um pesadelo! Ela não nasceu pra coisa. Nem deve ser minha filha. Inclusive, ainda bem que só tenho dois rebentos. Um eu coloquei em 'À Procura da Felicidade', e a outra aqui. Talvez agora me dêem um tempo”.

Apesar do empenho do Will, “Lenda” decepciona. O melhor de “Extermínio” era a chance de ver Londres vazia. Agora é Nova York. Vamos falar a verdade: essa é disparada a maior atração. No entanto, o filme não tem muito clima, e o final é extremamente religioso (pra agradar a direita cristã?). A gente vê que os mortos-vivos são fortes e rápidos, mas eles não falam e não parecem ter alguma inteligência. Então como armam uma armadilha pro herói? E ter um sobrevivente “escondido” perde a graça. É mais charmoso que todos os outros seres saibam onde ele vive e queiram a sua caveira. E que ele sobreviva por ter montado um hiper castelo tecnológico à prova de zumbis. Aliás, será que sou a única mulher na Terra que acha que esses zumbis e animais gerados por computador se parecem exatamente com zumbis e animais gerados por computador? Tô me tornando especialista em identificar de longe um efeito especial digitalizado. Aqueles veadinhos todos foram aproveitados de algum videogame? E não gosto que façam testes com animais, nem que seja pra salvar a humanidade, da qual não sobra grande coisa mesmo. Tem uma brasileira na jogada, a Alice Braga (que tá em “Cidade de Deus”). Mas melhor nem falar nela porque meio que entrega a história. Digamos assim, se todo mundo é um bando de zumbi gerado por computador, o Will é o último homem da Terra, e a Alice não interpreta o cão ou um zumbi, mencionar a presença de outra pessoa estraga a surpresa. Portanto, pobre Alice. Ela aparece num mega arrasa-quarteirão hollywoodiano e a crítica finge que ela não existe.

Ou vai que o problema de “Lenda” não seja com o filme em si, mas com todo um gênero? Um sujeito da revista “Entertainment Weekly” escreveu uma análise interessante sobre por que a ficção cientítica é o gênero que mais precisa de uma refrescada – não existem idéias novas. Aproveitam uma história de 50 anos atrás como “Lenda”, relançam “Blade Runner” (de 82) num estojo com cinco DVDs, insistem em repetir Aliens e Predadores, e logo logo soltam o remake de “O Incrível Homem que Encolheu”... Realmente, olhar pro futuro viria a calhar.


P.S.: Tá, talvez você conheça o Richard Matheson dos filmes acima, relacionado ao gênero da ficção cientítica. Mas sabia que “Em Algum Lugar do Passado” também é baseado num de seus livros? Pode ser que eu esteja exagerando, mas esse romance melodramático de 1980 marcou toda uma geração de mulheres (as coisas que marcam nem sempre são de boa qualidade. “Flashdance”, por exemplo, é inesquecível). Lembra do Christopher Reeve voltando no tempo pra encontrar a amada, Jane Seymour? É brega e água-com-açúcar, mas recomendo essa volta ao passado.