sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

CRÍTICA: INVASORES / Meu ex-marido vomitou em mim

Ok, sei que o título acima é asqueroso, mas entenda: o filme também é. “Os Invasores” é a quarta e pior versão do livro “Invasores de Corpos”. A primeira é dos anos 50, em preto e branco, e hoje parece bem datada (alguns interpretam como uma parábola anti-comunista; outros como sinal do macartismo). A terceira foi um produto dos anos 90 que não deixou rastros, apesar do hype da época. E a segunda é disparada a melhor. Essa de 78 é uma ficção científica muito massa. Lembro do Donald Sutherland com seu grito silencioso (dez anos antes do Al Pacino em “Poderoso Chefão 3”), e do cachorro com a cara do seu dono, literalmente. Mas esta quarta investida é risível. Sério. Ri em voz alta em vários momentos, e eu não era a única.

Algum tipo de vida extraterrestre invade a Terra e começa a substituir os humanos por seres mais passivos. O contágio se dá através de saliva, e em filme de terror isso significa não beijiinhos, e sim vômito. Como a Nicole Kidman faz uma psiquiatra, vai chegar uma hora em que uma senhora tá tendo um chilique no meio da rua, e a Nicole passa e diz: “Essa mulher foi minha paciente”. Quer dizer, a gente podia viver sem ouvir uma frase dessas sendo proferida por uma vencedora do Oscar. A pobre Nicole sofre no seu labuto, escutando seus pacientes reclamarem que “Meu filho não é meu filho”, ou “Meu marido tá agindo de forma estranha. Outro dia estrangulou nosso cachorro...”. A super psiquiatra diz: “Fique calma, vou te prescrever um remédio mais forte”, no que a gente espera que a paciente retruque: “Pra mim?! Dá remédio pro meu marido! Pro meu cachorro!”. A situação vai piorando, até que um grupinho vai visitar um diplomata russo muito doente. Eu disse doente? O cara tá coberto dos pés à cabeça por uma gosma verde, e todo mundo o trata como se ele tivesse uma febrinha!
Eu costumo gostar muito desses filmes de fim do mundo e epidemias mortais.E amo a idéia de não poder dormir, ou a gente vai acordar outra pessoa. A versão de 78 aborda esse temor brilhantemente, assim como parte da série “A Hora do Pesadelo”, em que o Freddy Krueger mata suas vítimas nos sonhos. Mas esta gosma, pelo amor de Deus, deve ser uma das piores atuações da Nicole. O que ela fez, pôs Botox nos lábios? Eu só ficava pensando no grande Tony Curtis em “Quanto Mais Quente Melhor”, fazendo cara de pato pra parecer uma mulher. E nos raros instantes em que eu não pensava nos lábios inchados da Nicole, pensava no seu cabelo. Tem alguma cena em que ela repete o penteado? É impressionante: o mundo tá acabando e a moça ora surge com cabelo enrolado mais curto, ora cacheado mais comprido, ora liso... Só depois li que o estúdio não aprovou a versão do diretor de “A Queda” e chamou um outro pra refilmar algumas cenas. Isso explica o penteado flutuante da Nicole. Mas nada explica o ridículo de certos diálogos e situações. Por exemplo, a Nicole dá instruções pra que seu pimpolho lhe aplique uma injeção no peito se ela dormir. Pensei que ela iria dizer, “Lembra de ‘Pulp Fiction’? Faz igual”. É patética a sequência em que a Nicole e o Daniel Craig (o último James Bond, aqui sem ter o que fazer) estão num jantar, e a Nicole diz qualquer baboseira e todos ficam falando como ela é brilhante, e de repente comentam como é perceptível que o casal se olhe e se goste tanto. Hã? Eu nem tinha notado que eles estavam na mesma mesa.
“Invasores” tenta levantar dúvidas razoáveis, como se viver num mundo com pessoas sedadas seria mais agradável que viver num mundo onde os humanos são humanos (ou seja, matam, estupram, fazem guerras). Ahn, só queria lembrar que nem todos os humanos agem assim. Só a parcela masculina. De qualquer jeito, se a gente pudesse castrar, digamos assim, os homens de seus instintos violentos, valeria a pena? Depende. Isso iria querer dizer que todo mundo passaria a agir como um Stallone, sabe, alguém sem nenhuma expressão? Não sei. Um mundo sem psicólogos até vai, mas um sem cachorros?!

P.S.: Acho que preciso repetir – pobre Nicole. Ela tá se especializando em remakes medíocres, tipo “A Feiticeira”, “Mulheres Perfeitas” (com temática parecida: virar uma esposa de Stepford é também ser substituída por alguém sem expressão, que não vai reclamar nunca), agora este. O que virá a seguir, “Lassie”?

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