sábado, 23 de janeiro de 2010

NÓS QUE SOFREMOS TANTO

Acho que a classe média brasileira, que tanto se queixa de suas condições de vida “sacrificantes”, deveria ao menos saber que só pode usufruir do nível de conforto que usufrui por causa da péssima distribuição de renda no país. Eu também sou classe média, mas a diferença é que não reclamo. Pelo contrário, eu sei que sou privilegiada. E que qualquer pessoa de classe baixa trocaria de vida comigo num instante.
Gostei muito dessa entrevista que o economista e professor da Unicamp Márcio Pochman deu à Carta Capital: “Os ricos vivem aqui muito melhor que a classe média e os ricos nos Estados Unidos e na Europa porque aqui os ricos não pagam impostos. E lá não existe como aqui essa massa de serviçais. É manicure, empregados domésticos, cortador de grama, faxineira, ou seja, um exército de prestadores de serviço. No Brasil, as famílias de classe média e ricas têm, em média, 13 serviçais à sua disposição para prestar serviços. São 13, no mínimo, ou seja, são mais de 20 milhões de pessoas que constituem esse exército com remuneração extremamente baixa. Por que é possível ir para uma pizzaria, churrascaria no Brasil e comer de forma extravagante pagando preços módicos? Porque aqueles que lá trabalham, o pizzaiolo, o churrasqueiro têm remunerações extremamente baixas. O que chama atenção é que viabilizar e internalizar esse padrão de consumo é somente possível com uma brutal concentração de renda, com um sistema tributário que concentra renda, que tira dos pobres e dá para os ricos e com um Estado que se organizou para atender fundamentalmente os ricos, o andar de cima da sociedade, como dizia Milton Santos.
E aí, quando o Plano de Direitos Humanos fala em tributação de grandes fortunas (algo que está previsto na nossa Constituição, mas que nunca foi implantado), a parte mais conservadora da classe média toma as dores dos milionários para si. Vale a pena pensar: é justiça social que ricos paguem menos impostos que pobres? Que toda a estrutura das cidades seja voltada pra pessoas com mais dinheiro? (veja como o transporte privado é mais importante no planejamento de uma cidade que o transporte público, por exemplo). E não, não é verdade que a classe média pague mais impostos e receba menos do Estado. Quem paga mais imposto e recebe menos do Estado são os pobres: "No Brasil, quem ganha até dois mínimos compromete quase metade da renda (48,9%) com impostos, mas o Estado gasta a metade do que arrecada com pagamento de juros, amortizações e rolagem de uma dívida que gera renda para uma elite sobre a qual o peso dos impostos é, proporcionalmente, a metade da carga destinada aos pobres."
Engraçado é que qualquer crítica à classe média é interpretada como pregação do fim da classe média. Já falei que sou classe média? Eu quero é mais que toda a população seja classe média. O que me chateia é esse discurso de que nós classe média sustentamos o país. Nós classe média que pagamos tantos impostos (menos que os pobres, decerto, e logicamente muito mais que os ricos). Nós classe média que sofremos tanto.
(Ah, e antes que alguém pergunte, conheço e gosto bastante do Classe Média Way of Life, inspirado no Stuff White People Like. Eu enjoei do Stuff — de que já falei algumas vezes — e parei de lê-lo faz um tempinho. O Classe Média é bem legal e é fácil se identificar com o que ele diz. E, enquanto o Stuff tem um vibe direitista, já que satiriza valores dos liberais americanos, o Classe Média é claramente de esquerda. E o que critica é justamente isso da classe média reclamar à toa).

36 comentários:

Masegui disse...

Belo texto, Lolinha! Parafraseando um amigo, não só concordo como estou de acordo!

Marússia disse...

É Lola, estou cansada de ouvir este discurso de que nós é que sustentamos os vagabundos que recebem o bolsa família, etc, etc.É triste! Lola, no post anterior você tocou num assunto sobre o qual gostaria de saber sua opinião: A FIDELIDADE. Aqui, em Fortaleza, dizem que no sul do país não há pessoas pedindo esmolas. Aqui há muitas pessoas pedindo esmolas. Gostaria de pedir para você escrever um post sobre o que você pensa sobre dar esmolas para crianças. Devemos ou não? Por favor escreva um post sobre cada assunto se for possível. bjs

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

O texto me fez pensar.

Somos da classe média e temos dificuldades: meu pai já sentiu dificuldade em pagar a mensalidade caríssima das escolas quando eramos menores e ele sente no bolso quando a inflação faz com que o preço dos alimentos subam. Não esbanjamos: comemos fora em datas especiais e não viajamos todo fim do ano.

Mas somos classe média e pasmem, fazemos parte dos 10% mais ricos do brasil. É muito ruim constatar a tamanha concentração de renda no nosso país: imagine como vivem os 1% mais ricos? E se nós temos dificuldades, imaginem as dificuldades dos 10% mais pobres?

Aqui realmente existe uma faciliade incrível de contratar serviços a preços minúsculos: faxineiras é o melhor exemplo. Nos EUA, que eu nunca fui mas faço idéia de como funciona, pessoas que vivem muito melhor do que eu aqui (não só por contar com uma infraestrutura melhor de um país desenvolvido), não tem isso, e eu tenho.

Isso tudo me faz pensar que tem algo muito errado acontecendo... E que vai ser difícil mudar.

Má disse...

Oi Lola!
Gostei do texto!
O M. Pochman é bom mesmo né, gosto dele!
Tem um documentário no site doc verdade do Milton Santos um pouco antes dele falecer sobre Globalização, muito interessante tb, ele é maravilhoso, vale a pena ver (já viu?)

http://docverdade.blogspot.com/2009/03/encontro-com-milton-santos-ou-o-mundo.html

Bjão

Anônimo disse...

Estou plenamente de acordo com tudo que você disse nesse post, Lola. E ainda lembrei de um email encaminhado que eu recebi, com o título 'Você é Branco? Cuide-se!'. O conteúdo do texto me arrancou uma risada.Bom, pra quem não viu o texto, vale a pena dar uma olhadinha. Mas fica o aviso: isso aí deve ser piada, não pode ser séria uma coisa dessas:

http://mais.uol.com.br/view/r71k1ntkdfex/voce-e-branco-cuidese-04023360C0993346?types=A&

Mari disse...

Lola, querida. Como você está? Em primeiro lugar, quero saber de você, com essa correria toda de mudança. Está dando para levar na boa? Então, tá. A respeito da classe média: morei sete anos em Milão, na Itália (marido diretor de Banco italiano), e lá vivíamos uma vida de classe média, italiana, apartamento muito bom, enorme, com jardim interno, auxiliar doméstica (donna di servizio ou colf), que paga-se muitissimo e que vinha trabalhar, com o seu Fiat 500 e casaco de pele (de coelho), uma senhora super querida, que me ajudou muito, a D. Antonia. Voltando para o Brasil, me divorciei, depois de alguns anos, casei de novo, e hoje moro na Serra da Cantareira em São Paulo, numa casa, grande, confortável, com piscina (que herdei),cachorros, etc e tal. Isso seria inimaginável na Europa, pois terra vale ouro, lá. Aqui é mais fácil.O que você falou sôbre mão de obra barata é a mais pura verdade. Aqui é fácil, ver pessoas, muitas vezes serem humilhadas, e trabalharem sômente para terem moradia. Coisa bem comum aqui no condomínio. Empregadas domésticas, sem registro e sem reclamar, porque é isso ou isso. A gente tenta ajudar o mais que pode, com cesta básica, roupas, mas o que falta é controle de natalidade e educação Crianças que nascem para serem mão de obra barata. A verdade é essa. Sem futuro. Escolas que aprovam sem nem se interessar em saber se as crianças sabem ler. E por aí vai. O que vale é que a maioria do povo, está consciente dos seus direitos. Quer um exemplo de semvergonhice? Minha irmã, administradora de empresas, aposentou-se e foi trabalhar em um escritório de advocacia, de uma "amiga". Pois bem, essa amiga, não registra ninguém, nunca, paga menos que o salário mínimo e dá pitis diários, humilhando as pessoas próximas.Essa é classe média brasileira. Legal né. Além de desejar que todos fossem classe média, gostaria que todos tivessem respeito e consideração pelo próximo, pois é terrível assistir as injustiças sociais no nosso Brasil. Beijos Lola, fique tranquila que voce e os seus amados, vão ficar bem. Tenho certeza, e sabe porque? Porque você merece!

Andrea disse...
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Anônimo disse...

http://testosterona.blog.br/2010/01/17/as-10-melhores-propagandas-de-cerveja-de-todos-os-tempos/#more-6691

Anônimo disse...

Lola, adoro seu blog, sua idéias, mas tenho algumas perguntas.
Você considera o Lula tão acima do bem e do mal assim? Mais especificamente, náo tem incomoda que "ele não sabia" do tal mensalão? Não te incomoda as suas tendências anti-democráticas demostradas quando ele contemplou a possibilidade, inconstitucional e anti-democrática do terceiro mandato? (Eu sei que FHC mudou a constituição a respeito pra se auto-beneficiar, mas estou falando do atual presidente). Nâo te incomoda que ele apoie governos ditatoriais (venezuelano, cubano e iraniano)?
Eu normalmente te acho muito sensata, mas não consigo conciliar essa sensatez, essa humanidade, esse espírito democrático que vc tem (p. ex.: sendo feminista, não preconceituosa) com a defesa de um presidente que não se posiciona claramente contra a corrupção, que não cita nomes dos corruptos em seu governo (às vezes os defende, como no caso de Josè Dirceu, Palocci, Sarney, Collor), que defende um governo ditatorial e misonista de ter armas atômicas (Irã), que diz que todas pessoas devem ser iguais perante à lei, mas outras devem não ser assim tão iguai (quando disse que Sarney não podia se tratado como "qualquer um"). Eu me sinto confusa quando desses posts em defesa de tudo isso.

Iseedeadpeople disse...

Eu tbm sou classe média, médica, ganho bem menos que grande parte dos meus colegas e vivo sendo criticada por isso. P q ganho menos? Pq eu ESCOLHI esse caminho, pq eu não quero ficar dando plantões desumanos de 48hs seguidas, nem perder fins de semana inteiros dentro de hospitais. Eu quero qualidade de vida, ter descanso , ter muito tempo com meu filho, ter tempo de cuidar de minha saúde e fazer o que gosto.

Mas sou constatemente criticada pelos proprios colegas, que me chamam de preguiçosa, de pouco ambiciosa, conformada; que dizem q a essa altura eu deveria ter um carro melhor (o meu é um Palio, oooi, não tá pra lá de bom?), morar num lugar mais "chique" etc etc

O que fazer nestas horas com tamanha falta de sensibilidade destas pessoas, Lola? Me diz oq respondo a elas, além de um sonoro "vaitománucu".

Bruno disse...

Lola,

Escrevi um post recentemente sobre o fato de que são justamente os mais pobres que mais se sacrificam para pagar impostos...

http://miudorecruzado.blogspot.com/2010/01/uma-bandeira-para-esquerda.html

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

chegamos de mala e tudo
e da porta já visualizamos a tv,o dvd ,o pc
a classe media chegou aumentou
e só não perdeu a mania de reclamar e se lamentar ,e reclamar ,e etc

aiaiai disse...

O pior não é a classe média reclamar, o pior é reclamar das coisas erradas.

deveria reclamar da falta de distribuição de renda, da falta de transporte público, da falta de escolas públicas de qualidade, da falta de saúde pública confiável,etc.
Sempre ouço os classe média (como eu, por isso convivo com eles) reclamarem dos buracos na rua. Mas, nem uma palavra sobre o sistema burro de ônibus. Eles querem que o prefeito e o governador abram mais ruas, viadutos, túneis....mas não falam nada sobre metro, trem, transporte coletivo é coisa de pobre, né? depois reclamam do trânsito kkkkkk, vai entender uma coisa dessas.

O mesmo com relação a escola. Um dos comentários fala da dificuldade de pagar escola particular...caramba, na noruega, na inglaterra, na frança, as pessoas - até as ricas - estudam em escolas públicas. No brasil a gente estudava em escola pública, até a ditadura militar acabar com a qualidade dessas escolas. A classe média, que deveria lutar por escolas públicas de qualidade, não o faz, porque acha que escola pública é para pobre. Daí, depois reclamam que pagam impostos e não tem nada.
Idem na saúde!

Outro dia uma besta de uma mãe do amigo do meu filho veio reclamar que o governo lula resolveu aumentar o salário mínimo no ínicio do ano. Ora, ela já tem um monte de despesas no início do ano - matricula da escola, ipva, iptu, material escolar, férias, etc (férias, vejam bem) - e ainda vai ter que ARCAR com um salário maior da empregada.
Eu falei para ela, mas FULANA, a sua empregada também tem despesas no início do ano, né? vc não acha justo que ela receba mais também? Afinal, vc iria dar o aumento para ela de qq forma, em maio, né, é só vc se antecipar nessa despesa, ponderei eu, calmamente.

E ela:
é, mas a minha empregada não tem tantas despesas...não paga escola, não tem carro, e o material escolar dos filhos dela é bem mais barato?

Cá com meus botões, pensei: não tem jeito. Parece piada mas ela tá falando sério. Então, cansada disse apenas: é. E sai de perto rápido!

aiaiai disse...

Aiaiai, me alonguei, né?

Mas agora serei breve, vim só dividir com vcs uma mensagem hilária sobre a eficiência de um programa social do governo de são paulo:

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/serra-da-o-peixe-e-ensina-a-pescar-do-leitor-fernandes/

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

anália disse...

Oi, Lola!
Trocaria de bom grado o meu padrão de consumo por escola, plano de saúde, aposentadoria e transporte públicos decentes.
Acho o renda mínima necessário. Fico muito feliz em constatar que os pobres estão ganhando mais, mas isso não quer dizer que eu deva me calar sobre meus "problemas classe média". E não chamo isso de reclamar, mas sim de reinvidicar. Lamentável esse pensamento de que a pessoa deve se alegrar com sua situação, fazer vista grossa a problemas bem reais, simplesmente porque tem gente em situação pior. Parece coisa religiosa.
Quando eu vejo esse tipo de discurso em pessoas que tem muitos pontos de vista com os quais eu me afino, fico pensando se não é uma questão geográfica mesmo. Lola, a situação aqui em São Paulo está muito ruim! Você em Joinville consegue usar o SUS, aqui você provavelmente morre se usar! A última vez que estive num SUS acompanhando uma pessoa, briguei. Médicos de um descaso mentiroso, dava vontade de vomitar! Transporte público, adoraria usar. Quando morava na casa do meu pai, apesar de ter carro, ia trabalhar todo dia de ônibus e metrô. Acho um saco dirigir! Mas hoje não tenho grana para morar num lugar que tenha serviço de transporte público que demore menos de 2 horas para chegar onde quero ir e onde eu não seja assaltada ou bolinada! Minha irmã passou um ano morando no Rio. Quer mudar para lá. Dá risada quando ouve carioca falar mal de trânsito por exemplo, diz que as pessoas não tem noção do que é aqui.
Não acho que a classe média sozinha sustente o país. Acho monstruoso que se pague impostos sobre alimentos, por exemplo. Era a favor da CPMF, que é um imposto extremamente progressivo. Mas acho que eu pago imposto demais pelo que eu recebo e pelo que eu vejo os mais pobres receberem tb. Gostaria muito que o Bradesco (que é uma Fundação e em quem nenhum Governo mexe, nem FHC nem Lula) pagasse o imposto que deveria pagar!
Bjs,
Anália
Anália

Oliveira disse...

Lola:

Você só não tem razão numa coisa: você não é classe média. Você é pobre. Não é miserável, mas é pobre. Só não percebe isso, por hábito de não ter grande coisa.

Oliveira disse...

Complemento:

Não ser classe média é o maior elogio que uma pessoa de esquerda pode receber; caso não saiba.

A classe média é asquerosa.

lola aronovich disse...

Anália, concordo com o que vc diz. Acho que reivindicar é um dever nosso. Não sou contra essas reivindicações que vc citou (melhorar o transporte, a educação e a saúde pública). Pelo contrário. Muitas pessoas de classe média querem que os serviços que o Estado presta ao cidadão melhorem. Por isso, inclusive, votam em partidos e políticos que não governam para os ricos, e nem pra classe média, mas para quem mais precisa (que não é a classe média). O que me chateia é ouvir pessoas de classe média reclamarem de barriga cheia, como essa mulher que a Aiaiai citou, que reclama do aumento do salário mínimo porque terá que pagar mais à empregada. Isso não é cidadania. A gente tem que ter noção dos nossos privilégios. Poder escolher se vai pagar plano de saúde ou ficar à mercê do SUS é um privilégio. A maior parte das pessoas no Brasil e no mundo não tem essa opção.


Oliveira, sob quais critérios eu sou pobre e não classe média? Além do SEU critério, que não é confiável? Por todos os critérios, eu sou classe média. E não sou nem classe C, sou B. Sempre fui. Ou você acha que pobre pode comprar uma casa de 170 mil à vista? Aliás, pode riscar o “à vista”, que a pergunta se mantem.

Erika disse...

Lola, estou curiosa quanto a sua resposta ao "anônimo", pois tenho as mesmas dúvidas. Acho que não existe ninguém perfeito, mas parece que o Lula na sua concepção o é. Gostaria de entender melhor.

Rita disse...

Oi, gente.

Ah, meu sonho de consumo é uma cidade brasileira com transporte público de qualidade pra gente ter a chance de melhorar o trânsito, além, de claro, beneficiar quem, de um jeito ou de outro, já usa o transporte público. Esse pensamento de só melhorar as vias para veículos de passeio é muito torto mesmo.

Eu não sei direito em que classe me insiro agora, talvez A, talvez B, mas não abro mão de distribuir renda com quem está ao meu alcance. Tenho duas funcionárias em minha casa - babá e cozinheira - e faço questão de repassar cada aumento que recebo para o salário delas, além de, claro, seguir os reajustes do governo no mínimo (elas não ganham o mínimo, mas quando o mínimo sobe, tudo sobe, e isso faz muita diferença para elas). Mas sabe um lance que é emblemático da forma absurda como muitos de nós tratamos nossas empregadas (em tempo: eu também sou empregada; quem tem um patrão ou patroa, quem tem um emprego público, quem não é dono do próprio negócio e trabalha fora, é empregado de alguém): já repararam no tamanho das dependências de empregada na maioria das casas e apartamentos? Pra mim aquilo diz muito. Na minha casa a dependência é o quarto de hóspedes. Uma vez alguém comentou: "putz, mas aí a pessoa que se hospeda na sua casa usa o mesmo banheiro da empregada..." Usa, sim, e por que não usaria? Eu uso, se quiser. São as pessoas a quem confio cuidados com a minha casa e com meus filhos. Pessoas que preparam o alimento que vai à mesa da minha família, que brincam com minha filha enquanto carimbo papel.

Não me envergonho de ter funcionárias em casa, ofereço a elas um bom emprego. Viveria sem? Claro, uai. Viveria sem muitas outras coisas a que estou acostumada. Mas o ponto é outro: é o descaramento de não assinar carteira, pagar um salário mínimo enquanto se ganha 20, oferecer um cubículo como opção de dormida (quando é o caso) e tratar como se fosse um mal necessário. Aí não dá. Minha babá e minha cozinheira são pessoas por quem tenho muito carinho e respeito; muitas vezes já me decepcionei, é verdade. Mas sigo apostando no ser humano.

Bjs.
Rita

Gaúcho disse...

Teve uma época que o governo tava falando em pagar vagas nas universidades privadas para alunos de escola pública, pra facilitar o acesso da população pobre ao ensino superior (já que nas faculdades públicas geralmente só passa no vestibular quem pode pagar cursinho e comprar muitos livros). Vi uma discussão sobre isso no portal do provedor POP, e tinha muita gente de classe média dizendo que isso era errado, porque o mercado de trabalho não tem vagas pra tanta gente, e os pobres beneficiados por esse projeto tirariam as vagas dos jovens de classe média... o que seria injusto, já que a classe mpedia paga muitos impostos, sustenta o país, blá-blá-blá, etc...

Oliveira disse...

LOla:

A classe média é, desde antes do golpe de 64 (que foi insulflada pela classe média), a extrema direita brasileira.

Patrick disse...

Marússia, gente pedindo esmola há em todo lugar. Em 2006 eu fiz uma viagem de dez dias pelos Estados Unidos (Boston e Nova Iorque) e me surpreendi com a grande quantidade de pedintes. Não passei um único dia da viagem sem me deparar com um mendigo.

Masegui disse...

aiaiai, Anália e Rita,

Gostei...ótimos pitacos... assino embaixo.

Oliveira,

ah, o pessoal já sabe...

Lolinha,

(cantando) You are so beautiful...

Oliveira disse...

Masegui:

Pergunte a qualquer representante da classe média, o que eles pensam de pobres, Lula, PT, etc.

lola aronovich disse...

Oliveira, vc definitivamente é um idiota, isso todo mundo já sabe. Mas suas falácias são impressionantes. Vc inventou que toda a classe média é de extrema direita (como vc). Se alguém é de esquerda, não pode ser classe média, é isso? Primeiro que a classe média não é uniforme. Muita gente da classe média é de esquerda, vota na esquerda, elegeu Lula, vota no PT (ou PSOL, ou PC do B etc). Se toda a classe média lesse a Veja, a Veja teria mais que um milhão de assinantes, não acha? Mas não vou nem discutir com um energúmeno trollento como vc. Seus critérios são absurdos. Durante todo o período eleitoral surgem pesquisas indicativas de voto separadas por classe social. Minha sugestão é que vc dê uma olhada nas pesquisas. Veja a intenção de voto de acordo com a faixa salarial de cada grupo, e vc ficará surpreso ao ver que sim, boa parte da classe média é muuuuuito mais inteligente que vc.

Alcyone Coelho disse...

Lolissimaaaaa, parabens pelo post. muito, muito, verdadeiro. é interessante que eu sou totalmente diferente de vc, mas respeito profundamente vc como blogueira, te acho superinteligente, etc. E, claro, as vezes discordo de vc, mas isso eh normal!
beijos,

Ro Salgueiro disse...

Lola, não sei não. Tenho uma microempresa (escola de dança) e creio que me enquadro na classe média porque moro em local privilegiado, tenho nível superior, pago uma faxineira uma vez por semana e consumo bens raros à maior parte da população brasileira (água encanada, legumes frescos, vinho etc). No entanto, desde que adquiri a empresa, entrei numa espiral de dívidas assustadora. A quantidade de impostos que recolho é sinceramente abusiva. Este mês dispensamos nossa funcionária (a recepcionista da escola) porque o salário dela, ainda que pareça baixo - salário mínimo - gerava praticamente o mesmo valor, por mês, em impostos e taxas, além de transporte e alimentação. Não, não pagamos tão pouco assim aos nossos funcionários. Se os impostos não fossem tão bizarros, eu certamente poderia contratar alguém por um valor mais alto do que o salário mínimo. Vista de dentro, a economia brasileira é massacrante e desabilitante.

Patrick disse...

Rô, infelizmente a carga tributária no Brasil é uma pirâmide invertida, que privilegia a cobrança sobre quem está em baixo, sejam pessoas físicas ou jurídicas (veja, por exemplo, o gráfico desta matéria). E a nossa mídia colabora bastante, sempre repercutindo negativamente qualquer tentativa de reequilibrar a carga tributária, como, por exemplo, no caso do imposto sobre grandes fortunas.

Anônimo disse...

Lola, gostaria muito que me respondesse esta pergunta: como é que a classe pobre paga mais impostos que a rica? a) Se o imposto tá na alimentação, o rico também come, certo? Ou a comida do rico não tem imposto? b) o rico (rico, aqui, quer dizer "classe média", okay?) paga todos os impostos que o pobre paga (na alimentação, nos combustíveis...) e ainda paga o terrível (terrível porque não dá o retorno que se espera) imposto de renda mensalmente no seu contracheque e ainda, geralmente, mais um monte na época da "declaração". Você consegue responder isso "briefly"? Ficarei muito agradecida. Marciane.

Patrick, valem pra você também as perguntas que faço acima. Aliás, você menciona um texto que tem como referência a Folha. A Folha? Mas a Folha não é tudo invenção?

Patrick disse...

Caro Anônimo:

1) Se o rendimento de João é R$ 500/mês e ele gasta R$ 300/mês com impostos, sua carga tributária é de 60%.

2) Se o rendimento de Paulo é R$ 10.000/mês e ele gasta R$ 3.500/mês com impostos, sua carga tributária é de 35%.

Eu citei um gráfico cuja fonte é o Ipea.

Glayston disse...

Lola, adoro seu blog, sua idéias, mas tenho algumas perguntas.
Você considera o Lula tão acima do bem e do mal assim? Mais especificamente, náo tem incomoda que "ele não sabia" do tal mensalão? Não te incomoda as suas tendências anti-democráticas demostradas quando ele contemplou a possibilidade, inconstitucional e anti-democrática do terceiro mandato? (Eu sei que FHC mudou a constituição a respeito pra se auto-beneficiar, mas estou falando do atual presidente). Nâo te incomoda que ele apoie governos ditatoriais (venezuelano, cubano e iraniano)?
Eu normalmente te acho muito sensata, mas não consigo conciliar essa sensatez, essa humanidade, esse espírito democrático que vc tem (p. ex.: sendo feminista, não preconceituosa) com a defesa de um presidente que não se posiciona claramente contra a corrupção, que não cita nomes dos corruptos em seu governo (às vezes os defende, como no caso de Josè Dirceu, Palocci, Sarney, Collor), que defende um governo ditatorial e misonista de ter armas atômicas (Irã), que diz que todas pessoas devem ser iguais perante à lei, mas outras devem não ser assim tão iguai (quando disse que Sarney não podia se tratado como "qualquer um"). Eu me sinto confusa quando desses posts em defesa de tudo isso.

Anônimo disse...

Patrick, não sei se você ainda vai ver este comentário meu, mas lá vai: não consigo entender como alguém que ganha 500 reais por mês pode pagar 300 de imposto. Que impostos somados chegam a 300 reais por mês par alguém que ganha 500? Do jeito que você colocou, claro, se ganhar 500 reais por mês e a pessoa pagar 300 de impostos serão 60% (minha ignorância matemática ainda me permite multiplicar 5 por 6; e me permite, também, "descobrir" que 3.500 são 35% de 10.000), mas você poderia, por favor, me dizer como dá 300 reais de impostos a alguém que ganha 500? Sugerir que eu olhe em tabelas do Ipea não ajuda muito, desculpe. E fico agradecida desde já. Marciane.

Patrick disse...

Cara Marciane, é relativamente simples explicar. Quem tem rendimento mensal de R$ 500, além da contribuição previdenciária de 8% sobre o seu salário, gasta praticamente toda sua renda mensal em consumo. Como o consumo é fortemente tributado no Brasil (ICMS, IPI, tributos sobre o faturamento), chegamos a esses valores tão altos.

No meu exemplo, eu utilizei números redondos para o cálculo mental ficar mais fácil. Mas vejamos os dados reais. Para um 1 salário minimo (os R$ 500), a carga tributária é de 48,9%. E para 20 salários (os R$ 10.000), a carga tributária é de 28,5%, como você pode conferir no gráfico do Ipea (é só clicar, não precisa fuçar o sítio do Ipea).