domingo, 31 de maio de 2015

FLA-FLU IDEOLÓGICO: RADS VS TRANS

Um post de dois anos atrás continua atual, infelizmente. Parece que essa briguinha ridícula nunca vai acabar. Uma leitora que assinou como Schsch comentou recentemente:

"Os comentários dessa postagem são surreais. De um lado há algumas feministas radicais discordando da Lola por acharem que ela é conivente com opressão misógina disfarçada de transfeminismo. De outro há algumas transfeministas acusando a Lola de ser transfóbica.
Que coisa deprimente o feminismo de internet vem se tornando. Que guerrinha estúpida. Essa dificuldade de reconhecer que uma opressão existe mesmo que você não seja diretamente afetada por ela é típica dos detratores do feminismo. E é uma prática cada vez mais comum dos dois lados desse fla-flu ideológico.
Em tempo: eu pessoalmente me identifico bem mais com diversos aspectos do feminismo radical do que qualquer outra vertente do feminismo, mas acho uma desonestidade intelectual gigantesca ignorar a opressão e o sofrimento, tanto físico (agressões etc) como psicológico, de mulheres trans. E dizer que 'não acredita em identidade de gênero', quando existe tanta literatura médica sobre o tema, sob diversos vieses, soa como -- perdoem a analogia fraca -- os negadores do aquecimento global causado por humanos: um grupo que nega a realidade por discordância política do tema.
Agora acho também uma desonestidade intelectual imensa dizer que é contraditório o feminismo radical ser abolicionista de gênero enquanto aborda questões biológicas. Qualquer leitura bem rápida sobre o tema explica que o feminismo radical acredita que gênero é uma construção social, não é sexo. E que ser designada mulher ao nascer -- ou seja, ser portadora de aparelho reprodutor feminino -- traz uma série de opressões (e também construções sociais, como gostar de rosa e usar saia) que não afetam os que são designados homens. Isso não é de difícil compreensão, a menos que a pessoa lendo esteja sendo propositadamente obtusa por discordar da teoria.
E também não dá pra achar que um grupo que queira discutir aspectos biológicos como gravidez, violência obstétrica, menstruação e outras situações que só afetam a quem nasceu com aparelho reprodutor feminino é praticar a transfobia. Se existe um grupo que quer discutir apenas isso e não aceita a participação de pessoas que não sejam afetadas por essas situações, por que isso tem que gerar incômodo? Quem considerar que outros assuntos são mais importantes do que esses pode participar de outros grupos. Stalkear, perseguir e demonizar grupos radicais por buscarem promover espaços exclusivos é além da desonestidade intelectual, mau caratismo."

Feminicídio? Tranquilo, é só um trans
Já a @vbfri escreveu um comentário na discussão sobre um tipo de feminismo que não acolhe muito bem quem pensa diferente. Primeiro ela copia um trecho de uma comentarista anônima, e depois ela fala:

"O que a gente é contra é lutar para que mulheres trans definam o que é ser mulher e possam acessar espaços femininos sem qualquer restrição. É só aí que não somos 'interseccionais'."
A expectativa de vida de uma pessoa
transexual é de 35 anos
[vbfri] Fale por você. O meu grande aprendizado no feminismo, o que foi, para mim, o divisor de águas, o momento em que eu saí do meu umbigo e comecei a ver que nem todo mundo tinha os mesmos privilégios que eu, foi quando eu comecei a trabalhar com autorização de cirurgias de transgenitalização. 
Na minha cabeça, eu considero mulheres trans como mulheres, apenas. E elas têm, sim, o direito de dar pitaco no que é ser mulher e usar os locais para mulheres. 
Então, se 'ser feminista' é ser CONTRA a luta das pessoas trans (que inclui, aliás, serem RESPEITADAS como seres humanos), me informa onde eu devolvo a minha carteirinha de feminista.
Pichação transfóbica em banheiro da
Unicamp
Honestamente, acho uma merda até a separação de banheiros em masculino/ feminino. A galera não pode usar o mesmo banheiro por quê? Sério. Qual é a lógica disso? 
E, além de banheiros, quais seriam os espaços reservados a mulheres? Vagões de metrô? 
E, vem cá... Por que há a necessidade de separar vagões de metrô? Não é pela encheção de saco de ter caras bolinando as mulheres? Não eram eles que tinham que aprender (e não a gente se segregar)? 
E aí as mulheres trans não podem usar o vagão de metrô e os banheiros destinados a mulheres? É isso? E por que diabos não?"

sábado, 30 de maio de 2015

GUEST POST: MEDO DE SAIR DE CASA

A C. me enviou este relato: 

No momento em que escrevo este texto, o relógio marca 2:51 da manhã. Depois de muito rolar na cama, decidi te escrever.
Estou com medo de sair de casa.
A história que tenho para contar infelizmente é comum, praticamente banal. Mas estragou meu dia, me tirou o sono, e achei que se houvesse uma pessoa que pudesse ser solidária, serias tu.
Ontem tivemos um churrasco em família na minha casa. Meu namorado atravessou a cidade para participar da festa, e por volta do meio dia, fui buscá-lo na parada de ônibus. Na minha rua há uma casa com uma pequena obra, e passei por três homens jovens que aparentavam ser pedreiros em horário de almoço. Precisei atravessar a rua e passar em frente a eles, e quando o fiz, começaram a gritar para mim.
Como sempre, os ignorei e passei reto. Nunca respondo a cantadas.
Na volta, eu vinha acompanhada do meu namorado, contando o ocorrido. Eles não estavam mais no mesmo lugar, tinham atravessado a rua, pareciam estar trabalhando num carro que estava estacionado. Disse ao meu namorado, “Ah, lá estão eles. Bando de desocupados”.
Não sei se me ouviram, ou se foi o olhar de raiva que meu namorado dirigiu a eles, mas o fato é que novamente começaram a gritar. Eu, que já estava com raiva, e muito aborrecida de não ter respondido da primeira vez que passei, olhei para eles. Tive certeza de que estavam gritando para nós.
Nisso, me enfureci de vez. Ora, já era o cúmulo me importunassem sozinha, mas não se intimidaram nem com minha companhia? Mostrei o dedo do meio. Gritaram mais. Gritei de volta, mandei tomar no c*, perguntei se não tinham trabalho para fazer. Começaram a insultar meu namorado, coisas do tipo “seu bunda mole, não vai defender a tua mulher?” Meu namorado até ameaçou atender, mas não deixei que fosse para a briga.
Cheguei em casa nervosa, com mais raiva do que qualquer outra coisa. Contei o que tinha acontecido pra minha família... E eles riram!
Minha tia e minha avó fizeram questão de me dizer que era bobagem, que eu “não deveria dar bola”, que se eu respondesse ficava pior. Minha mãe, ao me ouvir dizer que eu devia ser respeitada, afirmou veementemente que “isso nunca vai acontecer”.
Moro com minha mãe apenas, meu pai faleceu (e nunca foi de grande ajuda); mas coincidentemente hoje havia homens em casa, por causa da festa. Confesso que, apesar de ser algo machista, eu esperava que pelo menos se oferecessem para ir falar com os tais pedreiros. Meu tio fez uma cara de paisagem, meio “veja só”, e voltou para a carne. Meu avô não disse nada.
Depois disso, passei mal. A única pessoa que me deu apoio incondicional foi meu namorado. Chorei muito, estou muito magoada com a minha família.
Veja: sei que cantadas são comuns e "inofensivas". E sei que “devemos” (aspas, muitas aspas) ignorá-las. Mas Lola, eu passo em frente àquela casa duas vezes por dia, sempre sozinha. Ultimamente, tenho passado na rua às 7 da manhã porque sou bolsista na universidade. Durante o semestre, se preciso de qualquer aula à noite, chego entre 9 e 10 horas. São horários desertos, estou sempre sozinha, e há um terreno baldio logo em frente. 
Sou uma moça de 52 Kg. Meu namorado segura meus dois braços imóveis com uma mão -- e eles são três homens inteiros. Três homens fortes, jovens, desaforados, que não se intimidaram nem quando eu estava acompanhada. Geralmente essas cantadas param quando a mulher responde, mas tive a impressão de que xingá-los só os deixou mais violentos.
Eu estou com medo. Me tira o sono pensar em tudo que três caras poderiam fazer comigo. Porque a resposta é: qualquer coisa. Não há absolutamente nada que eu possa fazer para me defender de três adultos.
Pensei em falar com o dono da casa. Mas francamente, tenho medo que ele ache engraçado. Tenho medo que me diga que não tem nada a ver com isso, que eu desperdicei seu tempo, e que os homens vão continuar trabalhando. Quase nunca vejo o pessoal da casa, não sei se há mulheres na família, ou que tipo de gente são. 
Se o chefe da obra não me ajudar, não sei o que fazer. Talvez possa procurar no meu condomínio outras mulheres que tenham queixas -– muitas das minhas vizinhas passam pela rua todos os dias. Talvez eu não tenha sido a única a me incomodar.
Quanto mais penso no assunto, com mais raiva fico –- três marmanjos sem nada pra fazer me tiraram o sono porque eles resolveram que podem cantar mulher na rua. Por mais que eu pense que “não foi nada”, o fato é que eles são maioria, mais fortes, raivosos, e eu estou vulnerável. Sinto que corro risco. Nada garante que irão me fazer algo, mas ao mesmo tempo, nada garante que não irão. Da próxima vez que eu passar ali, se gritarem para mim, o que eu vou fazer? E se ficaram com raiva hoje?
Tudo que fiz foi andar na rua. E agora estou com medo de fazer isso de novo... Me desculpe o desabafo, Lola. Vou ver se consigo dormir.

Meu comentário: Você tem razão em estar apreensiva e furiosa, C. Eles não têm qualquer direito de te agredirem, te ameaçarem. Estão tentando marcar território. São uns covardes.
Acho que todas as suas sugestões são válidas. Veja com outras mulheres se elas também estão enfrentando problemas com eles. Fale com o dono da obra, explique o que está acontecendo, e exija que ele tome providências. E converse também com sua família. Conte pra eles que não é brincadeira, que você realmente está com medo (e com razão), que tem um terreno baldio em frente e você tem que passar por ele tarde da noite e que, se eles te atacarem, serão três contra uma. E lembre que existem muitos casos desse tipo -- casos demais pra que a gente possa descartar ameaças como brincadeira.
É preocupante também envolver seu namorado. É ótimo que ele te dê todo o apoio, mas não queremos que isso termine numa tragédia. Quando casos assim acabam em assassinato, as causas são chamadas de "motivos fúteis". Eu o manteria afastado.
Infelizmente, polícia não adianta nada nesses casos
Outra opção é ir junto com outras pessoas da sua família falar calmamente com os agressores. Talvez escrever uma carta? A palavra-chave é "calmamente", sem nervosismo, sem se exasperar. Sem que é difícil, por isso que talvez escrever uma carta seja melhor.
E explicar bem didaticamente, fazendo o possível para deixar as emoções de lado, que o que eles estão fazendo não é engraçado, que este é um problema real que atinge milhares de mulheres, que você tem o direito de passar por uma rua sem ser incomodada, que como eles se sentiriam se isso acontecesse com a mãe ou irmã ou filha deles? (sei que este não é um argumento muito saudável. Afinal, eles deveriam te respeitar de qualquer jeito. Mas creio que fazer essa conexão com as mulheres da família deles ajuda a criar um pouco de empatia, a fazê-los pensar). 
E recomende pra eles que, a partir de agora, todas as palavras que vocês porventura trocarem sejam "Bom dia" ou "Boa noite", de uma forma respeitosa. Posso estar sendo ingênua, mas talvez funcione. Eu sempre aposto no diálogo (e muitas vezes levo uma rasteira). 

sexta-feira, 29 de maio de 2015

SE AS ROUPAS NOS SERVISSEM: UMA FEMINISTA ASSUME A MODA

Semana passada publiquei um post sobre quem escolhe nossas roupas, e mencionei que fiquei menos preconceituosa com a moda após ler um artigo da Mihn-Ha Pham na revista Ms
Perguntei se alguém poderia traduzir o texto e a Laís se prontificou. Laís acabou de tirar a nota máxima no seu TCC, na área do Direito na PUC, sobre violência obstétrica. Agora vou ficar aguardando um guest post dela sobre o tema. 

“Minha paixão por moda pode, às vezes, parecer um segredo vergonhoso”, escreveu a professora do Departamento de Inglês Elaine Showalter, da Universidade de Princeton, em 1997.
E de fato, após a publicação destas palavras na Vogue, acumularam-se ainda mais motivos para envergonhá-la. Com certeza ela deveria ter “coisas melhores pra fazer”, disse uma colega.
A moda, como outras tantas coisas associadas a princípio à mulher, pode ser renegada à futilidade, mas ela molda a visão que os outros têm sobre nós, especialmente nos planos de gênero, classe e etnia. Por sua vez, o modo como somos vistas determina como seremos tratadas, especialmente no mercado de trabalho -– seja para sermos contratadas, promovidas e respeitadas, ou quão bem seremos pagas. Este tão habitual e íntimo ato, o de vestir-se, possui consequências políticas e econômicas extremamente reais.
Se as feministas ignorarem a moda, nós abdicamos do nosso poder de influenciá-la. Felizmente, a história nos mostra que feministas podem, em vez disso, fazer bom uso da moda para nossos próprios objetivos.
Quando a retórica da igualdade foi ignorada, sufragistas no fim do século XIX e começo do XX propuseram, literalmente, códigos de moda. Joias verdes, brancas e violetas favoreciam seus acessórios, mas não por um imperativo estético: as primeiras letras de cada cor G, W, V [em inglês: green, white, violet] -- representavam a sigla de “Give Women Votes” ("Dê o voto às mulheres", e também "Vote em mulheres").
Um século depois, na década de 1980, as mulheres se apropriaram do estilo de vestimenta masculina como uma tentativa de acessar o capital social e econômico que estava do outro lado do teto de vidro [a expressão em inglês “on the other side of the glass ceiling” é uma metáfora que ilustra as barreiras aparentemente invisíveis que impedem as mulheres de terem as mesmas oportunidades profissionais dos homens]. As então chamadas “mulheres de carreira” passaram a se vestir de maneira empoderadora, com saias de alfaiataria e enormes ombreiras, aproximando-se do estilo e da silhueta de um homem executivo profissional. [Nota da Lola: ombreiras eram detestáveis! Eu usei!]
Ainda assim, estas adaptações da moda e estilo masculinos raramente deixam de apresentar pequenos toques femininos. A socióloga Jan Felshin cunhou o termo Apologética Feminina para descrever como as pérolas e os babados numa roupa feminina usada para o trabalho servem como uma renúncia: eu posso ser poderosa, mas não sou masculina. Ou (afe!) lésbica.
O fato de que até mesmo as mulheres mais politizadas e em posições de comando cultural precisam se equilibrar entre parecerem poderosas mas ainda “apropriadamente femininas” realça a concisa descrição do teórico visual John Berger acerca da sociedade convencional: “Homens agem e mulheres aparentam”. Em outras palavras, homens são julgados por seus feitos; mulheres, por suas roupas.
O super decote de Hillary em 2007
Na política americana, Hillary Clinton vivenciou a dualidade do condenada-se-fizer, condenada-se-não-fizer imposta às mulheres poderosas. Se ela veste um poderoso conjunto de terno e calça, é um “uniforme destituído de sensualidade”, mas se ela mostra um mínimo decote –- pelo qual ficou famosa em 2007 -– isto se transforma numa enxurrada de notícias que ofusca sua plataforma política.
Enquanto as escolhas de todas as mulheres sobre o que vestir tendem a ser mais cautelosas que as dos homens, mulheres de outras etnias que não a branca suportam um cuidado ainda mais intensificado. Os estereótipos racistas que taxam tais mulheres como “fora de controle” (seja a negra furiosa ou a hipersexualizada latina) e outras como facilmente controláveis (a asiática tradicional ou a indígena sexualmente disponível) prejudicam as mulheres nos locais de trabalho. 
Elas, consciente ou inconscientemente, se vestem de maneira a diminuir suas diferenças raciais. Uma mulher asiática entrevistada pela socióloga Rose Weitz para o jornal acadêmico Gender and Society admitiu que cacheou seus cabelos para trabalhar “pois se sentia ‘asiática demais’ com seu cabelo liso natural”. Já uma mulher negra entrevistada por Charisse Jones e Kumea Shorter-Gooden para o livro Shifting: The Double Lives of Black Women in America explicou que nunca ia a uma entrevista de emprego sem, primeiro, alisar seus cabelos. “Não quero ser prejulgada”.
Fora do local de trabalho, na rotina diária, o controle das roupas femininas também é pautado por conceitos raciais. Quando mulheres negras vestem “roupas étnicas”, são costumeiramente tachadas de tradicionais, antiquadas e, em algumas circunstâncias, conservadoras. Já quando mulheres brancas usam trajes similares, representam um cosmopolitanismo global, um frescor multicultural.
A apropriação de vestimentas culturais não é algo novo. Sally Roesch Wagner revelou uma antiga apropriação em seu livro Sisters in Spirit, ao contar a pouco conhecida história das chamadas “calçolas”: calças longas e largas que se estreitavam na altura dos tornozelos, geralmente associadas às reformas das roupas na metade do século XIX. Se por muito tempo prevaleceu a versão histórica de que a novaiorquina e branca Elizabeth Smith (prima de segundo grau de Elizabeth Cady Stanton) inventou a calça saruel e de que Amelia Bloomer a popularizou, Wagner descobriu que Smith na verdade foi influenciada pelas mulheres nativas do povo Haudenosaunee. 
Se a moda vem sendo usada para introduzir novos modos de expressão para o sexo feminino, ela é também uma amarra que mantém as oportunidades sociais, econômicas e políticas das mulheres permanentemente presas às suas aparências. Numa época em que reality shows de makeover [transformações estéticas] sugerem que a auto-inovação não só é desejável, como praticamente exigível, e que a onipresença das mídias sociais encoraja todos a desenvolver uma “marca pessoal”, a pressão aplicada às mulheres para que sejam elegantes nunca foi tão perversa. 
Mesmo que a internet tenha intensificado o desejo de ser moderna, ela também abre espaço para que pessoas alheias ao mundo da moda influenciem tal indústria. Em 2008, um blog fashionista escrito por uma menina de 11 anos da região centro-oeste dos Estados Unidos, chamada Tavi Gevinson, tornou-se viral. Em questão de dois anos, suas resenhas sobre novas linhas de roupas eram acompanhadas de perto por agitadores da moda, e designers e editores convidaram-na aos seus escritórios, desfiles de passarelas e festas. Agora mais madura, com quinze anos, ela vem usando a moda como alavanca para sua mais recente aventura: editar uma revista online para adolescentes com um ponto de vista feminista.
Hoje, blogs de moda que celebram corpos que fogem da normatividade imposta por raças, gêneros, sexos e tamanhos emergiram para mudar o discurso dominante de gênero, beleza e estilo. E blogueirxs estão usando suas influências para lutar contra modas e produtos de beleza hostis.
Uma campanha iniciada em 2010 por um blog convenceu a empresa de cosméticos MAC e a equipe de design Rodarte a abandonar sua coleção de esmaltes e batons com nomes como “Ghost Town” (cidade fantasma), “Factory” (fábrica) e “Juarez” (em referência à cidade fronteiriça mexicana famosa pela série de feminicídios cometidos em suas fábricas locais). 
Campanhas online similares também travaram guerra contra designers e revistas que fazem uso de “blackfacing” e “yellowfacing” (maquiagem que imita de forma caricata negros e asiáticos), bem como as varejistas, tais quais Abercrombie e Fitch e American Apparel, que perpetuam o racismo, o sexismo e ideais de beleza associados ao tamanho dos corpos. 
Nesta época de interação social midiática, consumidorxs têm pelo menos uma voz no mercado de moda; nós devemos continuar a nos manifestar. Usar moda não deve significar que permitimos que ela nos restrinja.